Sakamoto: Fora do julgamento da trama golpista, Eduardo falou em golpe em 2021

Atualizado em 17 de setembro de 2025 às 12:28
Eduardo Bolsonaro. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), anunciado ontem como novo líder da minoria na Câmara dos Deputados, colocou a possibilidade de golpe de Estado na mesa, em um discurso em 1º de agosto de 2021. O deputado federal nunca foi indiciado, denunciado ou processado pela trama golpista, ao contrário de Jair Bolsonaro, que foi condenado a 27 anos e três meses na última quinta (11).

O ato, na avenida Paulista, em São Paulo, atacava o sistema eleitoral brasileiro e criticava o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal. Isso ocorreu já dentro do período da trama golpista que, segundo o ministro Alexandre de Moraes, do STF, começou em 29 de julho daquele ano, com uma live do então presidente.

“Estamos tentando evitar problemas. Não queremos dar golpe. Já elegemos o presidente da República. Agora, se quiserem bater de frente com a população, aí é outra história… Ser benevolente, ser pacífico, saber perdoar, não se confunde com ser otário”, afirmou o deputado federal em um vídeo resgatado pela coluna.

A Primeira Turma do STF deve julgar, até o fim de 2025, tanto Jair quanto Eduardo por interferência no julgamento da tentativa de golpe de Estado. Ambos foram indiciados no mês passado por agir em conluio com o governo dos Estados Unidos para impedir o trabalho da Suprema Corte.

Caso condenado, Eduardo, que não foi réu na trama golpista, ficará inelegível.

Em 29 de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro havia feito, em uma live em suas redes sociais, o maior ataque à credibilidade do sistema eleitoral e às urnas eletrônicas até então. Ele tinha prometido levar provas de supostas fraudes nas eleições brasileiras, mas trouxe apenas teorias que circulavam nas redes sociais e já haviam sido desmentidas pelos fatos.

O discurso de Eduardo Bolsonaro acabou escondido pelas fortes declarações de seu pai naquele ato de 1º de agosto de 2021. Jair havia discursado em Brasília e, depois, transmitiu ao vivo para São Paulo. O então presidente condicionou eleições limpas e democráticas à aprovação do voto impresso em papel com contagem pública. Afirmou que era aquilo traria a “garantia da continuidade da nossa democracia”.

Não foi a primeira vez que Eduardo Bolsonaro insinuou um ataque à democracia. Por exemplo, em maio de 2020, em entrevista a um canal no YouTube, ele disse: “Quando chegar ao ponto em que o presidente não tiver mais saída e for necessária uma medida enérgica, ele é que será tachado como ditador”.

E completou: “Eu entendo essas pessoas que querem evitar esse momento de caos. Mas, falando bem abertamente, opinião do Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opinião de ‘se’, mas de ‘quando’ isso vai ocorrer”.

Posteriormente, em setembro de 2020, ele foi chamado para prestar depoimento à Polícia Federal sobre o assunto, em meio à investigação sobre o inquérito dos atos antidemocráticos. Justificou-se dizendo que era uma “análise de cenário, e não uma defesa de ideia”.

Em julho de 2018, em um curso para interessados em prestar concursos públicos, ele disse que, para fechar o STF, “você não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo”.

Em agosto, contudo, ele trouxe à tona a palavra golpe.

A oposição transformou o deputado em liderança, nesta terça (16), para evitar a perda de mandato por faltas. Usou, para tanto, uma interpretação do regimento de que um líder legislativo pode marcar presença de qualquer lugar do mundo.

Eduardo Bolsonaro se encontra nos Estados Unidos, onde continua incitando o governo de lá a mover sanções contra o Brasil a fim de pressionar o país para evitar uma punição a seu pai. Donald Trump baixou um tarifaço de 50% contra produtos brasileiros, o que vem causando perda de empregos e fechamento de negócios, e sanções contra autoridades, como o próprio Alexandre de Moraes.