
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Apenas 7% dos eleitores que não são petistas ou bolsonaristas, de esquerda nem de direita, afirmam que estão prestando atenção na eleição de 2026 e já conhecem bem os candidatos. Outros 9% desse grupo dizem que vão tratar de fazer isso ainda este ano. Os dados da pesquisa Genial/Quaest apontam que o grupo decisivo para definir o próximo presidente da República ainda não entrou na discussão eleitoral.
Somando os que atestam já conhecer os candidatos e os que vão se inteirar ainda em 2025, o total é de 16%. Muito distante da somatória dos que se dizem lulistas (39%), bolsonaristas (39%), da esquerda não lulista (32%) e da direita não bolsonarista (37%). Ou seja, o grupo dos não-alinhados vai deixar a eleição para o ano que vem.
Em termos gerais, a pesquisa mostra que 21% dos brasileiros já estão prestando atenção nas eleições de 2026 e se informando sobre os candidatos. A maioria (57%) pretende se informar apenas durante a campanha eleitoral, e 14% dizem que só vão procurar saber na última hora, já bem perto da eleição.
Nesta semana, um estudo coordenado por Pablo Ortellado, professor de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, através da ONG More in Common, em parceria com a mesma Quaest, começou a destrinchar o que é, o que pensa e o que quer esse grupo que está fora da polarização política, que representa a maioria da população.
Segundo o estudo, os segmentos que formam as pontas polarizadas são pequenos. À esquerda, os Progressistas Militantes representam cerca de 5% da população. À direita, os Patriotas Indignados somam aproximadamente 6%. São esses os grupos mais engajados e ruidosos. Eles, inclusive, puxam consigo dois outros grupos de apoio, mais numerosos e menos engajados: a Esquerda Tradicional (14%) e os Conservadores Tradicionais (21%).
Juntos, no entanto, todos esses grupos somam 46% da população. Ocorre que os outros 54%, a tal maioria silenciosa, são compostos por dois segmentos gigantes, que o estudo batizou de Desengajados e Cautelosos. Cada um deles corresponde a 27% da população brasileira. O primeiro é mais progressista, e o segundo, mais conservador, mas esses rótulos não explicam seu perfil ou comportamento.
Nos grupos focais realizados para a pesquisa, essa maioria afirmou que não é despolitizada, mas sente que foi afastada da política. Os dois grupos de invisíveis no debate público têm mais incidência de baixa escolaridade, de baixa renda e da cor negra, enquanto que as pontas do debate público são mais escolarizados, mais ricos e mais brancos.
Outra pesquisa Genial/Quaest nesta semana mostra que o naco do eleitorado que não tem posicionamento político definido é o grande responsável pela melhora na aprovação do governo Lula. Em cinco meses, a diferença entre a desaprovação e a aprovação nesse grupo caiu de 28 pontos (em maio, era 61% a 33%) para apenas dois (em outubro, 48% a 46%).

Mais homens, ricos e escolarizados já entraram no debate eleitoral
O levantamento divulgado hoje pelo UOL pode indicar o cansaço de grande parte do eleitorado com a política, o que acaba se atenuando à medida que a atenção de toda a sociedade começar a girar em torno de temas como o da sucessão presidencial.
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Entre os mais jovens (16 a 34 anos), 14% afirmam já conhecer os candidatos. Já entre o restante do eleitorado (35 a 59 anos), a proporção sobe para 23%.
A escolaridade e a renda também influenciam o comportamento: entre quem tem ensino superior, 30% já começaram a se informar, mais que o dobro do índice entre quem possui apenas o ensino fundamental (14%). O mesmo padrão aparece entre os mais ricos — 29% dos que vivem em lares com renda acima de cinco salários mínimos já buscam conhecer os candidatos, diante de 13% dos que vivem com até dois salários.
Regionalmente, o Sudeste é a área onde há mais eleitores atentos desde já (25%), enquanto o Sul concentra o menor percentual (13%). O Nordeste aponta 17%, e o Centro-Oeste/Norte, 15%.
Enquanto 26% dos homens dizem que já conhecem os candidatos, 13% das mulheres afirmam o mesmo. Entre elas, 36% apontam que vão tratar de saber mais após começar o período eleitoral, taxa que cai para 27% entre eles.
O retrato geral indica que uma parcela significativa do eleitor brasileiro vai adiar o interesse para o momento da campanha — o que reforça a importância da comunicação política e da cobertura jornalística no período eleitoral, quando a maioria, finalmente, passa a prestar atenção.