Por Leonardo Sakamoto
A questão neste momento não é se Pablo Marçal está crescendo na reta final do primeiro turno à Prefeitura de São Paulo, mas se essa tendência de alta, detectada inclusive pelas pesquisas internas das outras campanhas, representa uma onda que o levará ao segundo turno. E se, ao surfar a onda, o influenciador vai dar um caldo no prefeito Ricardo Nunes, que disputa com ele o mesmo eleitorado.
Ao que tudo indica, Marçal não vai morrer na praia, como outros que tentaram chegar ao Palácio Matarazzo. Pode até não ir para o segundo turno, mas, se isso acontecer, vai chegar bem perto. Além de cacifá-lo para 2026, isso coloca o seu método de campanha, que mente, xinga e agride para causar e ser notado, como modelo a ser copiado por quem não tem escrúpulos e tempo de TV.
Marçal tem conseguido se conectar com o bolsonarismo-raiz de uma forma mais eficaz do que Nunes. Essa parcela da sociedade é engajada e estridente, funcionando como caixa de reverberação da imagem do influenciador.
Mas não só: consegue estabelecer uma ligação com público evangélico (através de um discurso que aplica a teologia da prosperidade ao empreendedorismo) e com o público jovem via seu discurso antissistema — apesar de nada ser tão sistema quanto o machismo e a violência política que ele vem cavalgando desde o início da campanha.
Não à toa, a artilharia do prefeito está voltada para ele e a dele, para o prefeito.
Outro que está profundamente preocupado é o governador Tarcísio de Freitas. Uma vitória de Marçal o colocaria como candidato natural à Presidência da República em 2026 na ausência de Jair Bolsonaro. Hoje, essa vaga estava “reservada” ao governador paulista. Não é uma questão de amor ao projeto de Nunes, portanto, mas de disputar a hegemonia local.
Esta coluna vem alertando desde o começo que Marçal tem grande chance de ser prefeito. E que cadeiradas, socos e o seu pugilato discursivo abaixo da cintura elevaram sua taxa de rejeição, a mais alta entre todos, mas não derrubaram sua intenção de voto. E rejeição é um problema para o segundo turno em uma eleição com vários candidatos viáveis, não para o primeiro.
Eleitores de Guilherme Boulos celebram a possibilidade de disputar com Marçal o segundo turno, pois acreditam que ele terá mais chances com o ex-coach do que com o prefeito. A questão é que, primeiro, a vaga de Boulos ainda não está garantida. E, além disso, como venho repisando aqui, essa análise equivocada da esquerda copia a de 2018, quando ela achava que o Brasil se uniria a Fernando Haddad para evitar dar o poder a Jair Bolsonaro. Ahã.
Publicado originalmente no UOL