
Por Leonardo Sakamoto
A nova pesquisa Genial/Quaest, que aponta que a aprovação do governo Lula oscilou dentro da margem de erro de dois pontos, passando de 48% para 47% e a desaprovação, de 49% para 50%, pode ser lida de dois ângulos.
Por um lado, isso significa um freio na curva de melhora de sua popularidade, que vinha aumentando desde o mês de maio, com a queda no preços dos alimentos e a narrativa patriótica entregue de presente com a traição bolsonarista junto aos Estados Unidos, bem como a aproximação com Donald Trump.
Mas há outro ponto de vista. Líderes da extrema direita apostavam em uma queda significativa na aprovação após a tentativa de colar no governo federal a responsabilidade pela situação de (in)segurança pública no país. O foco é a operação policial, realizada, em 28 de outubro, pelo governo Cláudio Castro (PL), que deixou 121 mortos. O banho de sangue repercutiu internacionalmente e foi usado como palanque eleitoral.
Contudo, a variação dentro da margem de erro aponta que a ação foi limitada, pelo menos por enquanto. A própria pesquisa Quaest apontou que apesar de violência ter escalado para 38% como principal preocupação no Brasil (a economia, que há um ano, estava em primeiro, caiu para segundo, com 15%), 55% da população não quer ver ações como a de Castro no seu estado, contra 42% que querem. Afinal, 84% dizem que o problema da violência é maior no Rio.
Claro que pesou a groselha servida gratuitamente por Lula ao afirmar que traficantes são “vítimas dos usuários” (81% da população discorda). Além de 57% discordarem do presidente, que acredita que a operação do Rio foi desastrosa. Até porque qualquer político no Brasil sabe que derramar sangue e dizer que é de bandido (apesar do próprio governo do Rio não ter entregue provas de que todos morreram em combate) dá voto.
Mas isso não causou ao presidente a queda esperada pela oposição. Do outro lado, há a percepção de que a alta no preço dos alimentos continua arrefecendo: 88% apontavam que a comida tinha subido em março, frente a 58% agora. No ano, o arroz caiu 23% e o feijão preto, 32%, segundo o IPCA, divulgado ontem. O desafio do governo ainda é grande nessa seara: a picanha teve alta de 0,8% e a cerveja subiu 4,4%.
Lula vai explorar na eleição as movimentações que está fazendo agora para aprovar legislações, bem como o tiro no pé do bolsonarismo representado pela tentativa de limitar a ação da Polícia Federal no combate ao crime nos estados – que foi alvejada ainda na maternidade na Câmara dos Deputados. Bem como o combate ao PCC através das operações contra seus sócios na Faria Lima.

O povo, segundo a Quaest, quer penas maiores para facções e retidada da visita íntima de presos. Não à toa, o governo se movimentou no sentido de aumentar a punição. Mas 70% da população também é contra facilitar a compra de armas de fogo como solução, o que é mantra da extrema direita.
Se quiser bons resultados nessa área, vai ter que continuar investindo no trabalho de inteligência, com estrangulamento financeiro, o corte de rotas de armas e drogas e a apreensão de bens. Isso não tornam desnecessárias ações policiais de enfrentamento, mas ao menos enfraquece as facções, as milícias e os políticos corruptos que se locupletam de ambas.
A Quaest aponta que a direita não-bolsonarista é a mais animada com a replicação da operação policial do Rio (62%), enquanto a esquerda não-lulista é contra (75%). O mais importante é que 58% do grupo independente, que não se alinha nem a um lado, nem a outro, e é fundamental na eleição, não quer que a polícia de seu estado faça algo semelhante.
Lula não será o campeão da segurança pública num país em que mortes têm valor eleitoral, mas pode reduzir os danos. O tema da segurança, como já avaliei aqui anteriormente, não será o coração da eleição se o poder aquisitivo estiver satisfatório em outubro de 2026. A percepção da qualidade de vida na economia tem sido o grande eleitor nos últimos anos, mais do que o sangue.