Sakamoto: Motta precisa mostrar se o presidente da Câmara é Bolsonaro, Trump ou ele

Atualizado em 8 de agosto de 2025 às 8:16
Hugo Motta, presidente da Câmara – Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Como se passaram dois anos e sete meses da invasão do Congresso no 8 de janeiro de 2023, deputados e senadores bolsonaristas resolveram lembrar a população de que o golpismo tá aí, à espreita. A chantagem para tentar livrar Jair Bolsonaro do xilindró e cassar Alexandre Moraes é o retrato de uma democracia distorcida por eles desejada.

Imagine, por um momento, que o PT e o PSOL, durante o governo de Jair Bolsonaro, sequestrassem as mesas diretoras da Câmara e do Senado até que uma anistia a Lula fosse aprovada e o ex-juiz federal Sergio Moro fosse banido da vida pública. Ia ter deputado de extrema direita fazendo valer o seu porte de arma e agente da polícia legislativa carregando senador da oposição para fora.

O bolsonarismo diz que fez a mesma coisa que o PT em 10 de abril de 2018. Na verdade, os petistas entraram em obstrução dentro do que prevê o regimento interno e não impediram votação naquele dia, muito menos acamparam no local, proibindo o seu uso pela Presidência da casa.

Bolsonaristas estão tentando dar um golpe no Poder Legislativo para poderem dar um golpe no Poder Judiciário e assim limpar a barra dos seus líderes, que tentaram dar um golpe no Poder Executivo.

Deputados bolsonaristas durante motim na Câmara – Foto: Reprodução

Jair esticou propositadamente a corda da Justiça, descumprindo as cautelares impostas a ele pelo Supremo Tribunal Federal. Cavou uma decretação de prisão domiciliar, o que vem sendo usado por seus aliados para tocarem fogo no parquinho, unificar suas hordas e socar as instituições enquanto se vitimizam. Ou o Brasil é só deles ou vai virar um inferno. Nisso, quanto mais tarifas de Trump (desemprego + falências), melhor.

Os presidentes Hugo Motta e Davi Alcolumbre, que, inclusive, foram ameaçados pelo deputado Eduardo Bolsonaro de sanções pelo governos dos Estados Unidos, vão passar para a História com a imagem de quase-líderes se derem amém para o passa-moleque. Aprovar a anistia, neste momento, seria ceder à pressão de um líder de uma nação estrangeira que exige que Bolsonaro fique impune.

Considerando que a invasão da Câmara só se resolveu com a intervenção do ex-presidente Arthur Lira e do centrão e que Motta apenas conseguiu se sentar em sua cadeira com a ajuda de colegas, o presidente precisa mostrar se manda de fato ou é apenas um fantoche que estava na hora certa e no lugar certo.