Sakamoto: PEC da Blindagem enterra imagem de deputados, e muitos não vão se reeleger

Atualizado em 18 de setembro de 2025 às 8:40
Hugo Motta durante votação no Congresso. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

A PEC da Blindagem ou, melhor, a PEC da Safadeza, da Velhacaria, da Bandalheira, da Sujeita, da Molecagem, da Pouca-Vergonha, da Malandragem, da Má-Fé, do Engano, da Corrupção, da Imoralidade, da Desonestidade, da Bandidagem, da Trapaça, da Picaretagem, da Vigarice, Descaramento, do Abuso, do Vandalismo, da Sacanagem, da Roubalheira, em suma, da Impunidade, é uma das maiores bananas dadas pelos deputados ao povo brasileiro. E olha que o bananal é grande.

Ela seria o apogeu da cara de pau do Congresso Nacional, mas parafraseando o grande filósofo Homer Simpson, é o apogeu da cara de pau do Congresso até agora. Na noite desta terça (16), os deputados desfilaram nus sem o tapa-sexo que costumavam usar para não chocar o eleitorado.

A PEC, aprovada pela Câmara dos Deputados, dificulta a punição de parlamentares ao condicionar a prisão ou a abertura de processo criminal a uma decisão de seus pares por maioria absoluta. Ou seja, raposas é que votam para autorizar que outra raposa, que depenou o galinheiro, possa ser punida ou não.

O foco da proposta é evitar punições por conta de crimes cometidos no envio de emendas parlamentares, cujas sacanagens vêm sendo escrutinadas pela Polícia Federal sob a batuta do ministro Flávio Dino. A mudança, contudo, é tão salafrária que pode acabar beneficiando quem comete crimes além daqueles relacionados ao mandato.

A esmagadora maioria da Câmara dos Deputados está unida por um objetivo comum e muito claro. Não é o desenvolvimento do país, a educação, a saúde ou a geração de empregos, muito menos a isenção de Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil por mês, que, aliás, está parada enquanto a Câmara olha para o seu umbigo sujo. É a garantia da própria impunidade.

Votação no Congresso. Foto: Divulgação

A turma do “é dando que se recebe”, do “toma-lá-dá-cá”, do “faz-me-rir” deu as mãos e carimbou a derrota do Brasil real. Aquele que paga a conta, que passa perrengue e é o primeiro a ser demitido quando a economia dá chabú.

Nossos representantes deram de ombros para a sociedade, mostrando o abismo entre o povo e a política partidária. A maioria dos deputados se comportou como se o Congresso fosse um castelo medieval, e eles, a nobreza intocável, que pode legislar em causa própria sem se preocupar com os que estão lá fora.

A cada escândalo que a polícia ou a imprensa desvenda, a resposta da velha política não é o mea-culpa, mas a reforma do jogo, a mudança das regras para que o próximo escândalo não os atinja.

A aprovação desta PEC é, no fim das contas, a mais nova prova de que a nossa elite política tem pânico da luz do sol. É mais uma etapa da guerra silenciosa, mas letal, para desmantelar os instrumentos de controle e fiscalização que demoramos décadas para construir após a redemocratização. A mensagem é clara: a festa continua e você, otário brasileiro, não vai ser convidado.

O povo ainda pode pressionar o seu senador. E, dar uma banana de volta na próxima eleição, lembrando quem votou contra o Brasil de verdade.