
Por Leonardo Sakamoto, publicado no UOL
O diabo está nos detalhes. E no tamanho do porta-malas. O diretor-geral da Polícia Federal recomendou ao ministro Alexandre de Moraes que coloque agentes 24 horas por dia, sete dias por semana, dentro da casa do ex-presidente Jair Bolsonaro para impedir uma fuga.
Ele avalia que a decisão do STF, seguindo sugestão da Procuradoria-Geral da República, de manter a Polícia Penal nas proximidades da residência para evitar que Jair escafeda-se para uma embaixada (Estados Unidos, Hungria, Argentina…) e lá peça asilo, não resolve. Tornozeleira pode ser eletrônica, mas não é infalível.
A decisão de colocar policiamento perto, mas não dentro da casa, teve como justificativa evitar transtornos para a família do ex-presidente e seus vizinhos.
Mas a PF discorda da efetividade disso. “Referida ação, para garantir eficácia, demandaria uma fiscalização minuciosa, por exemplo, de todos os veículos que saíssem do condomínio, o que poderia gerar um grande desconforto, em contrassenso ao que propõe a PGR”, diz.
Perceba que o diretor-geral da PF não falou apenas fiscalização de todos os veículos, mas fiscalização minuciosa. Isso não significa apenas olhar dentro do veículo e verificar se um dos passageiros se parece com Jair.

Segundo o dicionário Houaiss, “minuciosa” significa: 1) cheio de detalhes, dos mínimos pormenores; 2) que se esforça para não excluir nenhum detalhe no que faz; 3) que faz tudo com atenção e cuidado.
Considerando que Jair não cabe no porta-luvas, uma fiscalização cheia de detalhes significaria verificar se o réu não está se pirulitando muquiado em um porta-malas de um carro da família ou dos vizinhos ou disfarçado/fantasiado no banco de trás (por exemplo, vimos um líder religioso irreconhecível, com uma peruca loira e um shortinho azul, fazendo uma “investigação”).
A preocupação da Polícia Federal faz sentido. Até porque uma fuga após o Supremo determinar monitoramento seria a suprema humilhação.
Ah, mas o ex-presidente nunca faria isso. Bem, ele disse que não fugiria e fez um test drive de fuga de dois dias na Embaixada da Hungria, em fevereiro do ano passado, após ter seu passaporte apreendido; fugiu para os Estados Unidos dois dias antes do final do seu mandato com receio de que viesse a ser penalizado pela articulação golpista e para criar um álibi para o 8 de janeiro; e foi descoberto, em seu celular, uma minuta de asilo ao governo Javier Milei, na Argentina.
O receio de passar décadas preso pode tornar um porta-malas um passeio aconchegante.