
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, pela Polícia Federal, nesta quarta (3), por tentar salvar a pele de um deputado acusado de tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e ligação com o Comando Vermelho, só reforça por que há tanta gente querendo botar cabresto na PF. E por que defendê-la é proteger a democracia.
Bacellar foi preso sob a suspeita de ter vazado informações sigilosas da investigação da operação que prendeu o deputado TH Joias no Rio. Além disso, foram encontrados R$ 90 mil em espécie em seu carro.
Na decisão que autorizou a prisão e o afastamento de Bacellar da presidência da Alerj, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, alertou que organizações criminosas realizaram uma “infiltração política” no Rio de Janeiro, com capacidade de “corromper agentes públicos e políticos em escala”.
O diagnóstico deveria servir de alerta permanente sobre a necessidade de um aparato de investigação forte, independente e blindado de pressões políticas. Deveria. Mas vimos, ao longo do dia, reclamações sobre abusos inexistentes e exigências de aprovação de leis para limitar operações como essa. Vale lembrar que a primeira versão do parecer sobre o PL Antifacção, do relator Guilherme Derrite (PP-SP), condicionava operações da Polícia Federal ao pedido das autoridades no Estado em questão.
Imagina no Rio. Nunca.
Quem se beneficia da corrupção e da impunidade ameaça a instituição que expõe os esquemas. A prisão de Bacellar reafirma o papel da PF como instrumento essencial para proteger a democracia, o dinheiro público e a própria ideia de Estado. Enfraquecê-la é, antes de tudo, um atentado contra o Brasil.

Mas a declaração de Moraes nem é inédita. A revelação por investigações com a participação da Polícia Federal de que o então chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa foi o avalista para que matadores de aluguel executassem a vereadora Marielle Franco — morte encomendada pelo deputado federal Chiquinho Brazão e pelo seu irmão, o desembargador do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão — mostra como, no Rio de Janeiro, crime, política e polícia andam de mãos dadas.
A investigação da PF que levou à prisão dos envolvidos mostrou, aliás, o ex-chefe da área de Homicídios e posteriormente de toda a Polícia Civil como um homem do crime dentro da cúpula da gestão estadual. Sua função e a de sua equipe: atrapalhar o curso de investigações, protegendo o jogo do bicho, as milícias e qualquer um que pagasse por isso.
Prisões como a de hoje não são um desvio raro, muito menos na política carioca. Todos os ex-governadores eleitos pelas urnas desde a redemocratização, em 1985, e que estão vivos já passaram pela cadeia ou acabaram sendo afastados do cargo. Luiz Fernando Pezão (2014-2018), Sérgio Cabral (2007-2014), Rosinha Matheus (2003-2007), Anthony Garotinho (1999-2002) e Moreira Franco (1987-1991) foram presos.
Apenas Nilo Batista (1994-1995), que assumiu o cargo quando Leonel Brizola renunciou para se candidatar à Presidência da República, e Benedita da Silva (2002-2003), que assumiu após Garotinho renunciar para disputar a Presidência, não foram presos nem afastados. Mas ambos não foram eleitos como governadores, mas sim vices, ao contrário dos demais.
O atual governador, Cláudio Castro, não foi preso nem afastado, mas já teve sigilos fiscal, bancário, telefônico e de mensagens quebrados por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em meio a uma investigação sobre corrupção. E pode ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
O sistema não para por conta própria, precisa ser parado. E esse tipo de operação pegando peixes graúdos da política abre a possibilidade de refundar instituições do Estado do Rio de Janeiro diante da percepção de podridão do sistema. Resta saber se a sociedade e o Estado brasileiro têm força para isso ou também já estão emparedados entre a morte e a impunidade.
