Sakamoto: Reação ao Caso Master mostrará se Congresso tem bandido de estimação

Atualizado em 21 de novembro de 2025 às 8:31
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

No momento em que a Polícia Federal atinge um banqueiro que vendia terrenos na Lua, mantinha negócios espúrios com o Banco de Brasília e rifava dinheiro de aposentadorias de servidores públicos, o Congresso Nacional está fazendo a egípcia. Não há movimentações firmes para identificar e buscar a punição da rede de políticos e empresários que protegiam Daniel Vorcaro. Até porque, ao que tudo indica, isso seria cortar na própria carne.

Vorcaro construiu amizades em um espectro ideológico amplo, mas, levando em conta quem agiu ativamente para salvar o pescoço do banqueiro nos últimos tempos, destacam-se nomes como o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, e o do PP, Ciro Nogueira.

O senador, aliás, atuou nos bastidores contra uma CPMI que investigaria o Master e também pela aprovação de uma emenda à Constituição para aumentar a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos, de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por CPF. Isso beneficiaria o Master, que estava escorando seus CDBs no fundo. O senador também apoiou a compra de ações do Master pelo estatal BRB, o que foi reprovado pelo Banco Central.

A compra foi defendida com unhas e dentes pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), usando dinheiro público. E o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), investiu cerca de R$ 1 bilhão de dinheiro de aposentadoria de servidores no Master quando já era claro que o banco era uma comédia.

Fachada do prédio do Banco Master, no Itaim Bibi, em São Paulo. Foto: Maria Isabel Oliveira

Como já disse aqui, uma hipotética delação de Vorcaro está levando o leite de magnésia a desaparecer das farmácias de Brasília.

A falta de uma reação imediata e firme do Congresso mostra que a hipocrisia é gritante. A impressão que passa é que crime organizado só existe nas favelas. E o da Faria Lima, onde o Master tem sede e onde a PF realizou uma robusta operação, a Carbono Oculto, para desbaratar fundos de investimentos usados para lavar bilhões ilícitos do PCC?

A chance de o Congresso produzir respostas efetivas nesse sentido é a mesma do tal camelo passar pelo buraco da agulha. Caberá, novamente, à Polícia Federal fazer o serviço. A mesma PF que foi alvo de tentativas de asfixia operacional e econômica nos relatórios do deputado Guilherme Derrite na tramitação do PL Antifacção.

Ressalte-se que esse comportamento não é novidade nesta legislatura. Há parlamentares que já mostraram ter bandido de estimação ao defender, com unhas e dentes, quem foi condenado por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada.