Sakamoto: Sentiu! Eduardo Bolsonaro passa recibo de que gesto de Trump para Lula doeu

Atualizado em 23 de setembro de 2025 às 23:15
Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Lula, durante discurso na ONU nesta terça (23). Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Não, as declarações de Donald Trump sobre o rápido encontro que teve hoje com Lula nos bastidores da Assembleia Geral da ONU não significam uma mudança de opinião do presidente norte-americano. Ele ainda é um agressor. Porém, o pessoal que estende bandeira dos Estados Unidos para celebrar a data da independência do Brasil sentiu. Ah, sentiu.

Eduardo Bolsonaro e seus assessores correram às redes sociais para ressignificar as declarações de Trump, que afirmou ter abraçado Lula, rolado uma química entre eles e que vão se encontrar. O deputado federal vendeu a ideia de que, dessa forma, ele vai forçar o petista a negociar a anistia a Bolsonaro.

Qualquer marmota com problemas de cognição sabe que a condenação de Bolsonaro é uma questão do Supremo Tribunal Federal e que uma anistia, mesmo se aprovada pelo Congresso, será declarada inconstitucional pelo STF. Lula vetando o projeto ou não (e ele vetará) não fará diferença no final das contas.

Ou seja, esse argumento de que foi um lance genial de Trump é conversa para boi dormir, voltada aos seguidores da extrema direita que acreditam na falácia de que o clã Bolsonaro e amigos são os únicos com quem o presidente dos Estados Unidos falaria no Brasil. Precisam dar uma resposta ao rebanho e, talvez na falta de tempo para uma ideia melhor, surgiu essa história da “estratégia genial”.

Trump ter dito que abraçou Lula, que ele parece um bom homem e que só negocia com quem gosta, não significa que vai dar em alguma coisa. O presidente dos Estados Unidos já se mostrou uma pessoa volátil, que conta muitas mentiras (durante o discurso, ele mentiu sobre a balança comercial com o Brasil, por exemplo), tendo transformado o Salão Oval em armadilha para ferrar com os presidentes da Ucrânia e da África do Sul, por exemplo. Pode fazer o mesmo com Lula, e o governo brasileiro sabe disso.

Quem acha que tudo será diferente e que os dois vão colher jabuticabas juntos e dançar Village People está doidão. O que existe é uma promessa de conversa, e que ela partiu do norte-americano.

Mas, se a vida está difícil para trabalhadores e empresários atingidos pelas sanções de Donald Trump, incitadas por Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo e companhia limitada, imagina só a vida do pessoal que conspira contra o Brasil. O que admira é que ele ainda faça tudo isso com mandato parlamentar.