
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Enquanto a Ultrafarma vende vitamina C para imunidade, cálcio para os ossos e ômega 3 para o coração, seu dono e fundador, Sidney Oliveira, pode ter negligenciado o suplemento mais básico de todos: o da honestidade. Nesta terça (12), o empresário foi preso em uma operação do Ministério Público de São Paulo que investiga um esquema de sonegação, corrupção e propinas que movimentou mais de R$ 1 bilhão desde 2021.
A Ultrafarma, que se orgulha de ser uma das maiores redes de farmácias do país, sempre pregou “cuidar da saúde dos brasileiros”. Mas a operação afirma que, enquanto os clientes repõem nutrientes, ela preferiu se alimentar de dinheiro que poderia ser destinado à saúde pública. Segundo as investigações, o esquema contava com a ajuda de um auditor fiscal de alto escalão, uma espécie de “complexo B de burla fiscal”.
Tendo em vista, contudo, como a sonegação é vista no país, culpando apenas quem fiscaliza e não quem deixa de pagar imposto, corre o risco dele virar herói se confirmada a sua culpa.
Os ricos pagam planos de saúde privados caríssimos para suas famílias, mas os trabalhadores e pequenos empreendedores dependem de postos de saúde e hospitais públicos. Ou seja, a maioria da população precisa dos serviços públicos bancados com dinheiro de impostos — impostos que deveriam vir principalmente do bolso de quem tem mais dinheiro e de suas empresas.
A quem interessa a grande sonegação? Acredite, não é quem rala entregando comida, ganhando pouco ao dirigir por aplicativo, vendendo comida na rua e fazendo bico na construção.
Infelizmente, sonegador de milhões é vendido como herói e exemplo a ser seguido, pois venceu o “Estado gastador” quando, na verdade, um sonegador de bilhões causa mais dano ao tecido social do que alguém que roubou comida porque a família estava com fome.

Não se tem notícia, porém, de que sonegadores, que evitam que bilhões sejam investidos em educação, saúde, transporte e segurança, precisem se preocupar com quem grita “bandido bom é bandido morto”. Como falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto, esta coluna não está defendendo que ricos sejam executados com tiros nas costas nas calçadas como quem rouba sabão líquido no Oxxo. Mas que a justiça, seja ela social ou tributária, alcance a todos.
Diz o anúncio que se você compra vitaminas na Ultrafarma, pode confiar. Mas, se for seguir o exemplo do dono, é melhor tomar um suplemento de cuidado. Porque, no final das contas, nenhuma cápsula milagrosa dá 100% de garantia de impunidade.