Sakamoto: STF começa a tornar Eduardo Bolsonaro inelegível, para alegria de Tarcísio

Atualizado em 10 de novembro de 2025 às 9:12
Eduardo Bolsonaro em evento conservador nos EUA. Foto: Mandel Ngan/AFP

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) começará a colher o que plantou, nesta semana, quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começa a decidir se recebe ou não a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o deputado federal por botar a faca no pescoço do país a fim de interromper o julgamento de seu pai, Jair, por tentativa de golpe. Não há dúvidas de que será réu.

E considerando que será réu confesso, pois foi às redes se vangloriar tão logo Donald Trump impôs sanções aos empregos e empresas e às instituições brasileiras para ajudar o ex-presidente, ele será condenado. E, condenado, ele estará inelegível pela lei da ficha limpa. Com isso, adeus esperança de disputar o Palácio do Planalto ou o Senado Federal por São Paulo.

Mesmo que um aliado de seu pai ganhe a eleição e dê a ele e a Jair um perdão, o STF vai considerá-lo inconstitucional. O clã Bolsonaro dependeria, portanto, de uma mudança na composição do STF, o que pode levar tempo.

Depois da abertura do processo, acusação e defesa ainda vão apresentar provas e inquirir testemunhas. Dos Estados Unidos, onde está em autoexílio, ele não constituiu advogado, tentando dificultar a vida do STF. Mas há grande chance de ele ser sentenciado antes do registro de uma candidatura, que precisa ocorrer até 15 de agosto do ano que vem.

O deputado vem insistindo em ser candidato à Presidência da República, apresentando-se como uma opção mais à direita do que governadores como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Caso deixe o PL para se candidatar por um partido nanico, tal como seu pai fez com o então minúsculo PSL, em 2018, pode atrapalhar no primeiro turno. Não tanto pelo roubo de votos, mas por ataques a adversários do mesmo campo. E, assim, dar uma dor de cabeça a Tarcísio, que segue tateando terreno para escolher entre uma reeleição mais garantida em São Paulo e o cenário ignoto da corrida federal.

Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Foto: reprodução

Sim, a condenação de Eduardo ajuda Tarcísio, que vem sendo atacado por ele sistematicamente, aliás.

Mas toda a conspiração criada pelo deputado contra seu país também atrapalhou os planos do bolsonarismo de ter uma bancada ainda maior no Senado. A eleição de um dos deputados mais votados de São Paulo à câmara alta estava pavimentada. Agora, virou um beco praticamente sem saída.

Com o avanço das negociações entre Lula e Trump para derrubar ou modular o tarifaço, o papel de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos resumiu-se ao de cabo eleitoral de Lula para 2026 e motivo de constrangimento para a Câmara dos Deputados. Sim, nunca antes na história deste país uma estratégia deu tão errado.

Os Estados Unidos querem evitar que o país e o subcontinente sul-americano se aproximem ainda mais da China, mas também ampliar o acesso a matérias-primas que os chineses negaram acesso (como terras raras), baixar a inflação barateando a comida que encareceu com o tarifaço, do café à carne, melhorar as cotas de exportação de seus produtos, como etanol de milho, para cá, facilitar o negócio de grandes empresas norte-americanas no Brasil. Em suma, aproveitar que a carne do Brasil foi amaciada pela pancada das sanções e ganhar em cima.

Vejam só que são razões alinhadas aos interesses legítimos dos EUA e não às demandas de um clã. Claro que Trump adoraria ter alguém que age como seu pet, como Javier Milei, tomando café da manhã no Palácio do Alvorada a partir de 2027. E, certamente, pode usar suas big techs e a CIA para ajudar no serviço. Mas o Brasil não se curvou à chantagem imposta pela Casa Branca (como queriam alguns entreguistas por aqui) e, apesar dos prejuízos econômicos e sociais, está seguindo em frente, vendendo carne para a Indonésia, café para a China, comprando frutas para a merenda escolar.

A negociação de Trump vai tirar vantagens para os Estados Unidos e, ao final, ele poderá cantar vitória como gosta de fazer. Lula também dirá que venceu, pois há grande chance de resolver a questão econômica (as sanções contra Alexandre de Moraes e família talvez leve um tempo maior para serem sanadas). Por enquanto, é Eduardo Bolsonaro e seus assessores para assuntos aleatórios, que traíram o seu país à toa.

Enquanto isso, a Câmara segue sócia do tarifaço ao garantir a ele o o direito de continuar traindo o seu país. Nesse sentido, o STF vai, de novo, defender a República – coisa que os deputados não quiserem fazer.