Sakamoto: Tarcísio rifa economia ao passar pano para conspiração de Trump e Bolsonaro

Atualizado em 10 de julho de 2025 às 12:23
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), usa boné com o slogan trumpista “Fazer a América Grande de Novo”. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

No intuito de manter o patriarca da família longe do xilindró por crimes que ele cometeu, o clã Bolsonaro conspirou com um governo estrangeiro a fim de aplicar sanções contra o Brasil. Com isso, milhões de empregos estão em risco, sem contar queda de renda, alta da inflação e do dólar e outras desgraças. Mesmo assim, conta com o apoio de políticos bolsonaristas que parecem mais preocupados na benção da extrema direita na eleição de 2026 do que com empresários e trabalhadores.

Donald Trump não baixou tarifas por causa de Bolsonaro, mas usa o ex-presidente como instrumento para justificar suas ações e forçar o Brasil a capitular nas pautas de seu interesse. Quer que o nosso país reduza as tarifas e barreiras a produtos dos EUA e que não exija que as big techs precisem seguir as nossas leis ao atuar por aqui.

Beira o nonsense, diante disso, as declarações de Eduardo Bolsonaro que culpam o ministro Alexandre de Moraes, do STF, responsável pelo processo contra o pai, e aponta a anistia pela tentativa de golpe de Estado como saída para que os EUA não punam o país. Vale lembrar que o deputado federal se mudou para lá a fim de conspirar livremente. Seu pai afirmou ter transferido R$ 2 milhões para manter o filho.

Não menos bizarra são as declarações de Tarcísio de Freitas, que, na busca pela benção de Jair para disputar a Presidência da República em 2026, rifa a democracia e a economia. Após vestir um boné de Trump na posse do norte-americano, com o lema “Fazer a América Grande de Novo”, e celebrar quando o presidente dos EUA criticou o Brasil pelo julgamento contra Bolsonaro, o governador agora diz que a culpa é do atual governo. “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”, disse no X.

Ou seja, o campo político do qual faz parte se alinha incondicionalmente a Washington DC, conspirando contra a economia e a democracia brasileiras, os EUA usam isso como justificativa para garantir vantagens para si, e a culpa é da vítima. Dupla vítima, porque Lula pode ter um milhão de defeitos, mas seu governo vem negociando com o Tio Sam desde que o tarifaço global foi anunciado. E não tentou virar a mesa quando perdia eleições, pelo contrário, foi alvo disso.

Ao passar pano para uma conspiração em curso, apoiar o perdão ao golpismo de Jair e elogiar Trump quando o bilionário bate no Brasil, o governador também ganha responsabilidade pela situação. E joga contra a indústria de São Paulo, grande prejudicada com a decisão.

O STF não vai mudar o julgamento de Jair por tentativa de golpe devido às tarifas de 50% impostas contra o país. E o Brasil continuará negociando, mas sem permitir interferência de outro Estado em nossa democracia. No fim do dia, a ação do clã Bolsonaro trouxe apenas sofrimento ao povo que diz amar. “Bolsonaro acima de tudo” e “America First” mostram que são seus verdadeiros lemas.

Como disse aqui ontem, caso saiba comunicar isso de forma clara à população, o governo Lula pode colar em Jair a pecha de traidor, gerar uma identidade reativa e criar caldo de insatisfação junto aos patriotas de verdade – que não gostam de outro país dizendo o que o Brasil deve ou não deve fazer, muito menos de quem ataca postos de trabalho por aqui.

Um exemplo disso aconteceu no Canadá, quando Trump começou a defender que ele se tornasse o 51º estado norte-americano. Os conservadores, que estavam liderando as pesquisas, desabaram, e o povo manteve os liberais no poder.

Para o clã Bolsonaro, “democracia” é poder tentar golpes de estado e sair impune. E “patriota” é aquele que conspira contra os interesses econômicos e sociais do seu país em benefício de si mesmo.

O Brasil pode perder receitas e empregos devido a um grupo de brasileiros que não aceitou a derrota nas eleições e tentou um golpe de Estado. E que tem o apoio de políticos que, no intuito de chegar ao poder, apoiam ataques externos ao próprio país.

 Bolsonaro e Trump em jantar, na Flórida
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução