Sakamoto: Toffoli está assando pizza sabor STF para servir ao Master e amigos?

Atualizado em 29 de dezembro de 2025 às 12:22
Ministro Dias Toffoli durante sessão no STF. Foto: Ton Molina/Folhapress

Por Leonardo Sakamoto no Uol

O Banco Master é um daqueles escândalos que envolve tanta gente, mas tanta gente, que nem bem nasce e já há um rosário de voluntários se propondo a assar uma pizza em sua homenagem. O caso já constrangeu líderes do centrão, Congresso Nacional, Faria Lima e STF. Mas, a depender do que acontecer daqui para frente, também corar governadores da oposição, nomes ligados ao governo federal, Banco Central, clubes de futebol, um monte de políticos em estados e municípios e até o PCC.

Nesse contexto, as ações do ministro Dias Toffoli, como uma acareação fora de hora entre o dono do banco, Daniel Vorcaro, e Ailton de Aquino, diretor de fiscalização do Banco Central, cheiram a marguerita.

Ele não conseguiria extinguir a liquidação do banco, que morreu bem antes de ser enterrado pelo Banco Central. Mas pode livrar a cara do seu dono, Daniel Vorcaro, e até garantir que ele saia com algum um cascalho na mão. O que ajudaria para o investigado manter o bico fechado. Sim, a cantoria dessa ave em forma de delação levaria ao apocalipse em Brasília.

Conversei nos últimos dias, de forma reservada, com quatro pessoas que ocupam altos cargos na República nos Três Poderes. E a avaliação entre eles, que não são incendiários, é de que faria bem ao país se essa historia esquentasse, claro, dentro da lei e longe da promiscuidade e safadeza que foi o lavajatismo.

Pois febre não é indício de doença, mas sintoma de que o organismo está combatendo um corpo estranho. E, neste caso, é a força do dinheiro decidindo os rumos do Estado brasileiro a despeito do interesse público.

O problema é sempre a instrumentalização para um lado ou para o outro do resultados de investigações. Mas, ao que tudo indica, tem culpa para muita gente. O que não deveria servir para uma pizza, mas uma depuração em massa do sistema. A questão é que todos os atores dos quais estamos falando, de Brasília ao mercado, representam o sistema. E o sistema nunca para por conta própria. Pelo contrário, ele se protege.

Logo do Banco Master

Um crime dessa magnitude não se sustenta sem apoio político. Daniel Vorcaro construiu ou comprou amizades em um espectro ideológico amplo. Ao contrário de Mauro Cid, que era de Jair, Vorcaro é de muitos. Por exemplo, reportagem publicada por Amanda Rossi e Mateus Coutinho, no UOL, apontou que negócios ligados a ele receberam investimentos bilionários do maior fundo investigado pela operação Carbono Oculto, que apura o uso do sistema de financeiro para lavar dinheiro do PCC.

Se a investigação sobre o golpe expôs o projeto autoritário de um grupo político, o caso Master tem condições de escancarar o modo de financiamento de parte da política brasileira, o condomínio de interesses que transforma banco em máquina de fabricar dinheiro público para campanhas, consultorias de fachada e patrimônio oculto em paraíso fiscal.

Claro, tudo isso depende de as instituições estarem dispostas a ir até o fim. A experiência de delações passadas mostra que, no Brasil, o sistema político tem uma capacidade impressionante de metabolizar escândalos sem se depurar. Não falta advogado caro, voto em tribunal superior ou narrativa patriótica para transformar propina em “erro contábil” e fraude em “risco de mercado”.

Inclui-se, nesse pacote, melhorar instrumentos de controle do Estado, como o tal código de conduta proposto pelo presidente do STF Edson Fachin. Não é admissível membros do Judiciário tenham parentes advogando em casos que esbarrem em sua competência — tal como o milionário contrato da esposa de Alexandre de Moraes com o Master, que faz com que ações do ministro sejam questionadas como lobby. Mas o que Toffoli pode estar fazendo é usar a corte a favor de um réu, o que é outro patamar.

Num país em que banqueiro é tratado como gênio disruptivo mesmo quando vende vento por bilhões, talvez seja simbólico que a maior bomba do país não esteja em instalações militares, mas num banco em liquidação.