
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Enquanto a cúpula de líderes mundiais, realizada em Belém antes do início da COP 30, apontou avanços tímidos para a redução do impacto das mudanças climáticas, um surpreendente tornado deixava um rastro de terror no Paraná. Pela contagem, até agora, foram seis mortos e mais de 430 feridos. A destruição de Rio Bonito do Iguaçu lembra ao Brasil e ao mundo o nosso novo normal com o aquecimento global.
Qualquer alce que caiu em um buraco na Sibéria após o colapso do permafrost local, qualquer urso polar deprimido por estar à deriva em uma placa de gelo que se soltou no Ártico, qualquer cavalo caramelo ilhado em um telhado nas enchentes gaúchas ou ainda qualquer tamanduá-bandeira cercado pelas chamas de uma queimada descontrolada na Amazônia é capaz de explicar que já ajustamos o termostato do planeta para a posição de extinção. E que, neste momento, diante da falta de coragem dos governos para para largar mão de uma economia global baseada no petróleo, estamos nos esforçando apenas para que ela ocorra mais rápido.
O mundo tentava manter o aumento da temperatura global em 1,5 graus Celsius até 2100, o que vai ser impossível dado o nosso fracasso, nas palavras do próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, em Belém, nesta semana. Podemos chegar a 3, 4 ou 5 graus a mais. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com um limite de aumento de 2 graus Celsius na temperatura global, o nível do mar vai subir quase meio metro. Adeus, cidades costeiras.

Fazer com que pessoas acreditem que tudo está mudando sem que sintam isso na pele é difícil. Por isso, que esses terríveis eventos extremos têm a capacidade de mobilizar por mudanças. Talvez o esperado investimento das nações ricas para a redução de emissões e a mudança no comportamento dos cidadãos, bem como o desenvolvimento de tecnologias mais baratas para sequestrar carbono da atmosfera, virão quando houver pânico diante dos tais eventos.
O mundo, ainda em choque com os horrores da Segunda Guerra Mundial, proclamou, três anos após o fim do conflito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos – nosso documento mais importante. O Brasil cansado de autoritarismo promulgou, três anos após o final da ditadura, a Constituição Federal de 1988, seu documento mais importante. Infelizmente, é depois de andar pelo vale da sombra que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita.
A questão não é mais “evitar” mudanças climáticas e sim “reduzir a tragédia que já começou”. O mundo precisa entender que já está no fundo poço. A questão é que, no fundo, há um alçapão.
Não acreditem em quem fala que estamos em contagem regressiva: já adentramos uma nova era de extinção em massa de uma série de espécies. Talvez menos a nossa. Pois, ao final, os ricos comprarão sua segurança e herdarão a Terra, desta vez mais árida e violenta. Sem Tina Turner (para os mais velhos), nem Anya Taylor-Joy e Charlize Theron, num plágio de Mad Max — que virá não como tragédia, mas como farsa vagabunda.