
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Não foi o ministro Alexandre de Moraes, do STF, muito menos Paulo Gonet, procurador-geral da República, ou Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, nem mesmo o presidente Lula que colocaram uma tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro, nesta sexta (18), mas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro, e o próprio ex-presidente. Os três deixaram claro, com a conspiração contra os interesses brasileiros e com seus ataques ao STF, que uma fuga de Jair para a Flórida estava logo ali.
A chantagem do presidente dos Estados Unidos contra o Brasil, com a imposição de um tarifaço que levará à perda de milhares de empregos e de bilhões em receitas, mostrou que Trump estaria disposto a muita coisa para ajudar seu aliado tupiniquim, que está sendo julgado por tentar um golpe de Estado e organização criminosa armada, entre outros crimes.
Inclusive acolher um fugitivo Jair, que chegasse a seu território através da Argentina de Javier Milei, por exemplo. Ou na embaixada dos EUA em Brasília, onde o ex-presidente pediria um salvo-conduto para poder deixar o país ou ficaria hospedado por lá, que se transformaria em cabeça de ponte para ataque sistemático à nossa democracia.
Ao mesmo tempo, Eduardo não teve pudor algum em exibir que era ele quem subsidiava e influenciava as decisões da Casa Branca nesse sentido.
Coroando tudo, Jair tem mostrado desespero e destempero diante da condenação, que pode vir já em setembro. Desde que a crise com os Estados Unidos começou, ele tem usado suas redes sociais para fomentar ações contra o Brasil e atacar o seu julgamento, bem como os seus ministros. Diante disso, Moraes não tinha muita alternativa a não ser acatar o pedido da PGR e aumentar o grau de dificuldade para a fuga de Bolsonaro, inclusive proibindo que chegue perto de embaixadas, e impedir que continue usando suas redes para obstrução da justiça.

Vale lembrar que, em fevereiro do ano passado, após ter seu passaporte apreendido pela Polícia Federal, Bolsonaro permaneceu dois dias escondido na Embaixada da Hungria, em uma espécie de test drive e AirBnB de fuga.
Uma tornozeleira não impede alguém de fugir, mas dificulta bastante. Jair não é um dos golpistas que participaram presencialmente do 8 de janeiro, cujo monitoramento das tornozeleiras se mostrou mais precário. Como ex-presidente da República, terá agentes de olho na sua canela 24 horas por dia, sete dias por semana.
Trump pode dobrar a aposta diante disso, mas o Brasil não pode ficar refém de um governo estrangeiro para tomar ou não suas decisões judiciais.
Ao final, diante de tudo que aconteceu, ficou barato para Bolsonaro. Ele poderia ter sido preso de forma preventiva. Provavelmente, Moraes fez o cálculo de que o xilindró seria, para Jair um presentão em um momento em que ele começa a ser chamado de traidor da pátria pelo conluio com os EUA.