Salto para a informalidade: atleta olímpica vira ambulante e chama atenção para o golpe contra o trabalho. Por André Lobão

Atualizado em 24 de fevereiro de 2020 às 21:12
Ingrid Oliveira. Foto: Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

O processo de empobrecimento da classe média brasileira a olhos vistos ficou bem evidente neste carnaval de 2020.


O esforço da grande mídia  e minimizar o desemprego, classificando como empreendedores os trabalhadores em situação de subemprego, tem por objetivo gerar conformidade e aceitação das política econômica neoliberal, e o aumento da desigualdade.


A reportagem sobre a atleta olímpica Ingrid Oliveira, de saltos ornamentais, mostra bem isso. A saltadora, que é atleta do Fluminense, tendo participado dos jogos Rio 2016, estava vendendo bebidas em um bloco neste domingo (23), no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Ainda na relativização do aumento do trabalho informal no Brasil, um conhecido canal de notícias da TV fechada, comprometido com os ideais neoliberais, apresentou uma reportagem em que é aludida a criatividade dos vendedores ambulantes no carnaval para obterem clientes e assim aumentar suas vendas.

O depoimento de uma senhora que vende um “pedaço” de papel higiênico por R$1 — isso mesmo, R$1 — deu o tom da reportagem que naturaliza o crescimento do trabalho informal, inclusive no carnaval.


O exemplo da atleta Ingrid Oliveira mostra bem como cresce o subemprego no Brasil.

Segundo dados da Organizacão Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desemprego no país está em 12,1%, o que representa 12,8 milhões de pessoas.

Ainda segundo o levantamento, existem atualmente cerca de 60,8 milhões de brasileiros fora da força de trabalho. Esta classificação se enquadra para pessoas que não trabalham e não buscam vagas.


Sobre a informalidade, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz que, no final de 2019, a taxa de informalidade chegou a 41,1%. São considerados trabalhadores informais aqueles que não possuem carteira assinada, trabalhadores domésticos sem registro em carteira, empregador e trabalhador sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar (aquele que trabalha com alguém da familia) . Esse universo abrange 38,4 milhões de pessoas.


Hoje, a população brasileira, segundo o último censo demográfico do IBGE de 2018, é de 208,5 milhões.

Se consideramos a soma dos que trabalham na informalidade e os fora da força de trabalho, teremos um número impressionante de quase 100 milhões de pessoas que não possuem qualquer tipo de proteção da previdência ou trabalhista, o que corresponde a quase 50% da população do Brasil.


No Rio de Janeiro, por exemplo, foram cadastrados pela prefeitura 10 mil ambulantes, de 27 mil inscritos, para atuarem neste carnaval 2020.

Certamente este número é maior, não sendo contabilizados os ambulantes não licenciados. E será que Ingrid foi credenciada ?

Assim na capital carioca, fica cada dia mais perceptível em ruas e praças o aumento da quantidade de pessoas que disponibilizam para venda algum tipo de produto.


Em espaços tradicionais como o centro da cidade, na área do comércio popular como o Saara, já se percebe aumentar a concorrência entre lojas e ambulantes. Áreas que antes eram consideradas nobres para o comércio como a Avenida Rio Branco já estão tomadas por barracas que se tornam obstáculos no vai e vem de quem passa na região.

Ingrid Oliveira como vendedora ambulante. Foto: André Pessoa