“Salvou minha vida escolar e profissional”: os professores, os alunos, meu pai e o dia 30. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 29 de maio de 2019 às 20:00
Emir Macedo Nogueira, professor, no Ceneart, em Osasco

Emir Macedo Nogueira, meu pai, era jornalista e professor.

Encarava essa dupla jornada com amor.

Era um workaholic, palavra que não existia na época.

Nunca se queixou do trabalho. Amava o que fazia.

Morreu aos 55 anos em 1982, logo após se aposentar da Folha, pouco após virar presidente do Sindicato dos Jornalistas. Ironia.

Tinha uma coluna chamada “A Língua Nossa de Cada Dia”, inspiração — assumida — para o professor Pasquale.

Sua vocação era ensinar.

Nos anos 60 e 70, lecionou em Osasco no Ceneart, Colégio e Escola Normal Antônio Raposo Tavares, que teve um papel importante no movimento estudantil contra a ditadura.

Ajudou alunos perseguidos.

Mais tarde, deu aulas de redação na Faculdade Casper Líbero.

Quem o viu em ação faz questão de contar, aos meus irmãos e a mim, a sensação que tinham.

Um deles relatou que Emir costumava tirar os sapatos em classe, de tão à vontade.

Papai estava em seu elemento.

Quinta, dia 30, é dia de um novo protesto contra o corte de verbas nas universidades e institutos federais pretendidos pelo governo de Jair Bolsonaro.

De acordo com a UNE, 150 cidades estão confirmadas.

O DCM estará cobrindo. É nossa missão combater as trevas.

Está no nosso DNA.

Ficou ainda mais claro com o email que recebi de uma leitora e queria compartilhar com você.

O nome dela é Elza Corsi.

Reproduzo aqui alguns trechos.

Fui aluna do Prof. Emir Macedo Nogueira na década de 60 – curso científico – em Osasco.

Foi Prof Emir que descobriu, no primeiro ano colegial, em um mês de aula, que eu era portadora de dislexia.

Brincava comigo dizendo como havia enganado todos os demais professores.

Salvou minha vida escolar e profissional.

Mudou o programa curricular  para me ajudar a resolver parte do problema. Fiquei uma fera.

Cursei Nutrição e Biologia na USP. Tenho 71 anos ainda trabalho como professora.

PROF EMIR CONTINUA UMA INSPIRAÇÃO.

Parabéns pelo DCM, belíssimo trabalho. FELIZ AQUELE QUE NÃO NEGA DE ONDE VEIO E PODE SEGUIR NA MESMA PEGADA.

Longa vida aos mestres e estudantes.

Gratidão eterna a eles pelas vidas que transformam e salvam.

Obrigado, Elza.

Saudade doída, pai.

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