Sanções de Trump tendem a escalar com julgamento de Bolsonaro, diz Míriam Leitão

Atualizado em 17 de agosto de 2025 às 12:04
Donald Trump, presidente dos EUA – Foto: Reprodução

As sanções econômicas dos Estados Unidos contra o Brasil tendem a escalar com o início do julgamento de Jair Bolsonaro em setembro, segundo avaliação da colunista Miriam Leitão, do Globo. Para a jornalista, Donald Trump já prepara um discurso mais duro, usando o processo contra o ex-presidente brasileiro como justificativa para adotar “novos atos hostis”.

Na quinta-feira (14), o chefe de Estado americano afirmou que o Brasil é um “parceiro comercial horrível” e acusou o país de promover uma “execução política” de Bolsonaro.

Miriam observa que o papel de Eduardo Bolsonaro no exterior segue alimentando a versão de que há uma ditadura no Brasil. O deputado, que teve a licença encerrada e não retornará à Câmara, se reuniu com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, na mesma data em que o encontro de Bessent com Fernando Haddad foi cancelado – a movimentação faz parte da tentativa de pressionar Washington a agir contra a economia brasileira.

Segundo a jornalista, Trump atua com “realidades paralelas” e deverá explorar o julgamento para reforçar ataques contra universidades, museus, instituições de pesquisa e órgãos de estatística que o desagradam. Ao mesmo tempo, tenta internacionalizar a narrativa de que Bolsonaro é vítima de perseguição e de que o governo Lula conduz um regime autoritário.

As defesas dos réus no processo do 8 de Janeiro sustentam que não houve golpe porque o decreto golpista “não foi assinado”, e que Bolsonaro garantiu “transição tranquila”. Para Miriam, os documentos e áudios reunidos contra eles desmontam essa tese. Ela lembra que o próprio Supremo já apontou que os acampamentos e articulações golpistas eram acompanhados por Bolsonaro, mesmo após ele deixar o Brasil.

Jair Bolsonaro e Donald Trump – Foto: Reprodução

A colunista reforça que, se hoje o Brasil julga quem atentou contra a democracia, é porque o golpe não se concretizou – ao contrário de 1964, quando os Estados Unidos apoiaram a ruptura institucional. Agora, o risco, diz ela, vem do “ataque externo” patrocinado por Trump, que pode mirar setores inteiros da economia brasileira.

“A história das relações entre Brasil e Estados Unidos anda em círculos. Em 1964, eles tiveram sucesso ao apoiar o golpe que implantou a ditadura militar. Durante a presidência Jimmy Carter, o governo americano pressionou o Brasil a respeitar os direitos humanos. Era uma democracia pressionando uma ditadura que torturava”, afirmou Miriam.

“Agora é o governo americano que está disfuncional. Trump ameaça universidades, museus, instituições de pesquisa, demite funcionário responsável por estatísticas que o desagradam. E acusa o Brasil de ser uma ditadura. O que o Brasil fará dentro de alguns dias é julgar quem atentou contra a democracia”.