Sanders mal humorado, golpe fitness e Trump: junção de memes é a síntese da contemporaneidade pós-pandemia

Atualizado em 4 de fevereiro de 2021 às 12:37
O balaio de gatos que virou pop

É impossível entender o mundo contemporâneo sem entender a cultura da Internet.

Todo o debate cultural, político e econômico está trespassado pela capacidade da web em sintetizar assuntos, traçar paralelos com o passado e, claro, de fazer piada de qualquer assunto.

Nas últimas semanas, uma série de acontecimentos políticos foram retratados pelo que a Internet faz de melhor: memes.

Um tweet viral juntou Sanders na posse de Joe Biden, uma blogueira dando uma aula de aeróbica durante um golpe militar, Trump dançando para pedir votos e um gato ao som de música tradicional turca.

Em 20 de janeiro, na posse de Joe Biden, recém-eleito presidente dos EUA, uma imagem de Bernie Sanders, concorrente de Biden à indicação democrata, viralizou.

O líder americano aparece sentado sozinho, todo encapotado devido ao frio na capital americana e com luvas feitas de tricô.

Para além dos memes e das piadas (uma das montagens colocava Sanders com a Esfinge em Gizé, no Egito), uma campanha virtual arrecadou US$ 10 milhões para fazer blusas como a que Sanders vestia na posse.

Ainda relacionado com a campanha eleitoral norte-americana, está o vídeo de Trump dançando.

Durante a campanha, Trump proibiu o TikTok, um aplicativo de vídeos curtos nos EUA por conta das disputas comerciais com a China, mas ironicamente, uma das melhores peças de sua campanha foi justamente uma montagem do ex-presidente americano dançando ao som de YMCA.

Um vídeo feito para ironizar as habilidades dançantes (ou a falta delas) foi usada pela campanha de Trump para pedir voto ao republicano, num ato desesperado na última semana do pleito. Mostra de como marketing eleitoral é muito sobre como transformar limões em limonadas.

Já nesta semana, as piadas ficaram por conta de uma blogueira fitness de Mianmar.

Nesta segunda-feira (01), o exército de Mianmar deu um golpe militar no país do sudeste asiático e prendeu integrantes do governo, inclusive a líder política Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991, e o presidente do país, Win Myint.

Para relembrar a frase do filme Batman, o cavaleiro das trevas: “Ou você morre jovem suficiente para permanecer herói ou vive o suficiente para virar vilão”.

Foi o caso de Suu Kyi, ativista na juventude, mas cujo governo foi acusado de diversos abusos, dentre eles, o de perseguir os rohingyas, uma minoria islâmica num país majoritariamente budista.

Num vídeo surreal, uma mulher grava uma aula de ginástica aeróbica durante a chegada do comboio militar ao parlamento do país.

Sem perceber que o golpe estava acontecendo, a mulher continua a aula normalmente. Poucas coisas poderiam sintetizar de forma mais concisa a vertigem do mundo pós-moderno – ainda mais o mundo pós-pandemia.

Por fim, a história por trás da hipnotizante música que embala a junção de todos esses memes.

Um gato dançando uma música de inspiração turca. O meme de um homem tocando uma música num tambor enquanto um gatinho dançava foi um dos memes mais compartilhados de 2020, um ano bastante fora do comum.

O músico é Bilal Göregen, percussionista que toca darbuka, instrumento de percussão tradicional em países árabes. Deficiente visual, toca num estilo muito popular na região onde nasceu.

A música que viralizou com o gato é uma versão de uma música chamada “Levan Polkka”, do grupo finlandês Loituma. A versão de Göregen, provavelmente foi cantada de forma mais veloz pela pouca familiaridade com o finlandês. Silábica, a música é pura forma – não tem letra.

Muita gente pode pensar que o músico ficou chateado com a zoação e os memes com o gato.

Que nada! Ele não só curtiu a brincadeira como a postou em seu canal no YouTube. Contumaz usuário da Internet, Göregen tem 18 vídeos com milhões de visualizações e até já participou do programa Got Talent Turquia.

“Criada” por Tim Barners-Lee em 1991, a Internet não é só um meio de comunicação. Virou infraestrutura.

Não é mais possível pensar – e entender – o mundo sem ter em conta a cultura online.

Política, jornalismo e educação foram transformadas pela rede para sempre. Qualquer político ou figura influente precisa pensar numa estratégia digital eficiente. Afinal, para ir dos EUA à Mianmar, passando pela Turquia, basta a velocidade de um clique.