Santo, monstro, nenhum dos dois ou ambos? O desafio de levar Steve Jobs ao cinema

Atualizado em 7 de outubro de 2015 às 12:53

Publicado na DW:

 

Se depender de seu desempenho dramático, Michael Fassbender é forte candidato a astro cinematográfico do momento. Tendo galgado o primeiro escalão do cinema em menos de uma década, graças a um punhado de papéis extremos, o ator natural da cidade alemã de Heidelberg e crescido na Irlanda se consagra como um dos mais carismáticos e versáteis, a cada produção de que participa.

Depois de encarnar, entre outros, um ativista do IRA (Fome, 2008), um viciado em sexo (Shame, 2011) e um senhor de escravos (12 anos de escravidão, 2013) – sempre dirigido pelo britânico Steve McQueen –, além de um músico de rock oculto atrás de uma gigantesca máscara em Frank, de 2014, Fassbender retorna às telas na pele do cofundador da Apple, Steve Jobs (1955-2011).

Ciranda de atores e cineastas

Adorado por seus seguidores e fãs como gênio da informática e guru da internet, o americano era criticado por outros como tirano empresarial e excêntrico incurável. Em 2013, Hollywood já abordara essa figura controversa em Jobs, dirigido por Joshua Michael Stern e estrelado por Ashton Kutcher – sem sucesso significativo nas bilheterias e esnobado pela crítica.

Longamente planejada, a nova produção enfrentou uma série de obstáculos até ser lançada, chegando a ficar congelada durante um período. A própria escolha do ator para o papel-título causou muitas dores de cabeça aos produtores.

O primeiro indicado a encarnar Steve Jobs foi Christian Bale, mais tarde cogitou-se Leonardo DiCaprio: ambos recusaram. Contudo, o fato de Fassbender ter sido, no mínimo, a terceira opção, não impediu que seu desempenho fosse louvado sem reservas após a estreia no festival de Nova York.

O diretor é Danny Boyle, que se lançou em 1996 com o drama de viciados em drogas Trainspotting – Sem limites, e cujo Quem quer ser um milionário? arrebatou nada menos do que oito Oscars em 2009. Mas o inglês tampouco foi a primeira escolha: quem deveria originalmente assumir a direção de Steve Jobs era David Fincher (Clube da lutaGarota exemplar).

O americano de 53 anos, aliás, também dirigiu A rede social, cinebiografia do fundador do Facebook Mark Zuckerberg, sobre o roteiro de Aaron Sorkin premiado com um Oscar. E, enquanto Fincher saltou fora do projeto Jobs, Sorkin permaneceu, garantindo, ao lado de Boyle e Fassbender, alta qualidade ao resultado final.

Saga tecnológica em três partes

Steve Jobs se concentra em três fases decisivas da vida do empreendedor visionário, cada uma relacionada ao lançamento de um novo produto da Apple. Em 1984, o informático triunfa com seu Macintosh, o primeiro computador comercial da história com interface gráfica.

A segunda parte transcorre quatro anos mais tarde. Depois de abandonar em clima de discórdia a companhia, tendo transcorrido apenas um ano desde o lançamento do Macintosh, Jobs funda a concorrente NeXT. Lá, ele projeta mais um computador revolucionário, o qual, apesar de não ter se imposto no mercado, era altamente avançado do ponto de vista tecnológico.

A terceira fase da saga biográfica do duo Boyle-Sorkin se desenrola em 1998. De volta à Apple, Jobs consegue resgatar o combalido conglomerado, ao desenvolver e lançar um novo modelo, pioneiro em termos de performance e design, o iMac.

Antes de ser apresentado no 53º Festival de Cinema de Nova York, Steve Jobs teve estreia mundial em 5 de setembro de 2015, no pequeno Festival Telluride, no estado americano do Colorado. As primeiras reações da crítica foram basicamente positivas – com aplausos unânimes para Michael Fassbender.

The Hollywood Reporter lhe atestou ritmo e dinâmica. “A encenação cheia de suspense de Danny Boyle complementa o altamente teatral estudo em três atos de Sorkin.” Time Out New York traça paralelos entre a obra cinematográfica e a personagem real, “espantosamente brilhante”. Mais ainda do que em A rede social, Aaron Sorkin criou um script cortante e impiedoso, descrevendo um visionário da tecnologia “cujo gênio ameaça corromper a própria moral”, é a análise da revista.

Controvérsia e bilheterias

Ao desenvolver o roteiro, Sorkin se orientou pela biografia do jornalista Walter Isaacson, lançada em 2011. Apesar de ter sido autorizada pelo próprio Steve Jobs, ela foi mal recebida por fãs do pioneiro da era digital.

Seu sucessor à frente da Apple, Tim Cook, disse estranhar a forma negativa como Jobs é descrito em certas passagens. “Com essa pessoa que é apresentada no livro, eu nunca teria colaborado voluntariamente”, afirmou, após o lançamento da biografia.

Com o filme, voltou a se inflamar a controvérsia sobre como representar uma figura como Steve Jobs. Cook criticou a produção num programa de televisão, tachando-a de oportunista e demasiado fixada no resultado das bilheterias – embora admitindo ainda não tê-la assistido.

Aaron Sorkin rebateu no Hollywood Reporter as declarações de Cook, aconselhando-o a ver o filme antes de criticar. Acusando o atual CEO da companhia de hipocrisia, o roteirista não deixou de chamar a atenção para as más condições sob que os produtos da Apple são produzidos na China.

Seguindo o princípio “falem mal, mas falem de mim”, portanto, tudo promete que, ao chegar aos cinemas americanos, nesta sexta-feira (09/10), a biografia estará cercada da devida dose de controvérsia e atenção midiática. O lançamento brasileiro de Steve Jobs está programado para 21 de janeiro de 2016.