Cerimônia de inauguração de obras do São Francisco no RN é encerrada sem nenhuma gota d’água

Atualizado em 10 de fevereiro de 2022 às 11:06
Bolsonaro na transposição do Rio São Francisco
Jair Bolsonaro na transposição do Rio São Francisco.
Foto: Reprodução

Por Mirella Lopes

A transmissão da cerimônia de inauguração das obras do Rio São Francisco no Rio Grande do Norte realizada no final da manhã desta quarta (9), na cidade de Jucurutu, foi encerrada sem que fosse vista uma gota de água sair da mangueira segurada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ministro do Desenvolvimento Regional, o potiguar Rogério Marinho.

A barragem de Oiticica fica localizada entre os município de Jardim de Piranhas, São Fernando e Jucurutu, onde foi organizado o evento da presidência. A barragem será o primeiro reservatório a receber as águas do São Francisco no RN. Porém, até o fim da cerimônia a água não tinha chegado, segundo a direção da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e de uma fonte que falou com exclusividade à agência Saiba Mais, por falta de planejamento.

Por causa de um erro de cálculo, até a manhã desta quarta as águas não tinham chegado sequer à cidade de São Bento, que fica a 18 quilômetros de Jardim de Piranhas, município que faz parte da Barragem de Oiticica e fica a uma hora de Jucurutu. Com isso, apesar de todo o evento, a água presente no rio hoje era proveniente apenas das chuvas na região e não há águas do São Francisco no Rio Grande do Norte ainda.

Durante a cerimônia, os ministros Fábio Faria, Rogério Marinho e o presidente da República fizeram uma série de insinuações e repetiram informações falsas que já haviam sido desmentidas na imprensa. Confira os principais pontos:

FOLHA DE PAGAMENTO

Dentre os ministros potiguares, o das Comunicações, Fábio Faria, foi o primeiro a discursar. Dentre os primeiros feitos que teriam sido resultado do esforço do governo federal estaria, justamente, a quitação das quatro folhas de pagamento deixadas em atraso pelo seu próprio pai, o ex-governador Robinson Faria.

As folhas atrasadas foram herdadas pela atual governadora Fátima Bezerra (PT) de quem os ministros e o presidente são ferrenhos inimigos. A própria Fátima e os Secretários já desmentiram a informação e expuseram a fonte de recursos para a quitação do pagamento atrasado do funcionalismo:

Em junho de 2019 foi quitado o 13° de 2017, no total de R$ 30 milhões, com recursos próprios oriundos dos royalties.

Em agosto de 2019 a conta da folha de pagamento dos servidores foi vendida ao Banco do Brasil, com a condição de que o banco pagasse os R$ 102 milhões não repassados pelo governo anterior.

Em fevereiro de 2020 foi quitado n mês de novembro de 2018, no total de R$ 95 milhões, com recursos próprios da arrecadação do ICMS e repasse constitucional do Fundo de Participação dos Estados (FPE).

Em janeiro de 2021, com recursos arrecadados do Super Refis, foi iniciado o pagamento do débito do 13° de 2018, destinando R$ 90 milhões para quitar o débito com os servidores que recebem até R$ 3.500,00 líquidos.

PISO DOS PROFESSORES

Fria disse que a governadora do RN pagaria apenas 1/3 do reajuste de 33,24% autorizado por Bolsonaro. No entanto, o Governo do Estado propôs pagar 13% como primeira parcela do reajuste estabelecido e negociar os 20,24% restantes ainda para este ano, estando o valor condicionado à consulta ao Tribunal Regional Eleitoral e ao Tribunal de Contas do Estado, por causa do ano eleitoral.

CORRUPÇÃO

Sem apresentar números ou argumentos técnicos, Faria afirmou que na gestão de Bolsonaro não houve corrupção e citou a compra das vacinas, alvo de investigação pela CPI da Pandemia que descobriu, entre outras coisas, a negligência e atraso na compra das vacinas contra a covid-19 por causa de esquemas de negociação de propina.

Um dos vendedores que depuseram na CPI apontou que o Governo Federal cobrou US$1 por cada vacina comprada.

PAI DA TRANSPOSIÇÃO

Já Rogério Marinho criticou a fala do ex-presidente Lula, que em suas redes sociais, lembrou que a maioria das obras para a transposição do São Francisco foram realizadas durante os governos o PT. Em seu discurso Marinho disse que “a obra não tem dono”.

Com esse discurso, Marinho tenta esconder que pelo menos 92,5% da execução física dos dois eixos estruturantes foram realizadas durante os governos de Lula (2003-2011) e Dilma (2011-2016).

LEMA FASCISTA

Além dos ministros potiguares, o ex-senador Magno Malta, que perdeu o cargo nas últimas eleições e agora é acompanhante de Bolsonaro nas comitivas, falou mais uma vez sobre “Deus, Pátria e Família” enquanto princípio norteador do governo.

O lema é o mesmo usado pelo integralismo brasileiro durante a década de 1930, quando o movimento político inspirado na extrema-direita e no fascismo.

GASOLINA

Bolsonaro insinuou que a alta no preço dos combustíveis era culpa da governadora ao sugerir: “Procure saber quanto ganha a governadora daqui com o litro de gasolina que vocês botam no carro de vocês”.

O “ganho” ao qual Bolsonaro se refere é o ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que recai sobre o preço dos combustíveis mas que está congelado desde o final do ano passado, apesar do preço dos combustíveis continuar subindo por causa da política adotada pela Petrobras de acompanhar o valor do barril atrelado ao dólar.

MITO

Já em seu discurso, além de reforçar a defesa os princípios de “Deus, Pátria e Família”, Bolsonaro tentou demonstrar sua proximidade com o nordeste citando os familiares da esposa, que teriam origem no Ceará.

O presidente ainda insinuado que as obras do São Francisco não haviam sido concluídas por causa da corrupção. Falou em eleições ao dizer que “os ladrões do passado” estavam querendo voltar e prometeu debater os números durante a campanha, apesar de ter fugido de todos os debates na última eleição. O evento foi encerrado aos gritos de “mito”.

Confira o vídeo na íntegra:

 

Publicado originalmente no Saiba Mais

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