
Em editorial publicado nesta sexta-feira (3), o Estadão destacou as duras declarações do promotor Lincoln Gakiya, referência no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que afirmou na Câmara dos Deputados no último dia 23 que São Paulo “fracassou” no enfrentamento da facção criminosa, permitindo sua transformação na “primeira máfia do Brasil”:
O promotor Lincoln Gakiya, uma das autoridades mais respeitadas quando se fala em combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC), foi direto em sua avaliação perante a Comissão Especial sobre as Competências Federativas em Segurança Pública, na Câmara dos Deputados.
Ao afirmar, no dia 23 passado, que São Paulo “fracassou” na contenção da organização criminosa e precisa fazer um mea culpa, Gakiya disse em alto e bom som aquilo que os fatos já demonstram há muito tempo: seja por incompetência, seja por cumplicidade de seus agentes, o Estado não soube cortar o mal pela raiz. E o resultado, concluiu o promotor, foi a criação da “primeira máfia do Brasil”.
De fato, é incontornável reconhecer a responsabilidade do Estado de São Paulo no fortalecimento do PCC nas últimas três décadas. Um bando formado após uma briga de futebol, no início dos anos 1990, por um punhado de detentos numa penitenciária do interior paulista decerto não se tornaria esta hidra mortal se o poder público, à época, não tivesse sido tão negligente ao permitir que a facção prosperasse intramuros. (…)

(…) Mas tudo isso, na escala inicial, poderia facilmente ter sido controlado, em particular por São Paulo, o Estado mais rico e supostamente mais bem preparado do País para enfrentar o crime organizado.
Hoje, o PCC é um “problema instalado”, como constatou Gakiya. Já é uma máfia de perfil empresarial. A citada Operação Carbono Oculto revelou o grau de infiltração do PCC em negócios aparentemente legítimos, como o de combustíveis, lavando e multiplicando bilhões de reais por meio de fintechs e gestoras de investimento instaladas em plena Avenida Faria Lima, o centro nervoso do sistema financeiro nacional.
Isso, por si só, confirma que o problema deixou de estar circunscrito à segurança pública: o PCC é uma ameaça estrutural ao Estado Democrático de Direito e à economia brasileira. A presença das organizações criminosas na política institucional está sobejamente demonstrada. (…)