Sara Winter anuncia que desistiu da militância e promete contar “a verdade” por trás dos 300 do Brasil

Atualizado em 5 de janeiro de 2021 às 21:14
Sara Winter e o anúncio da live

A extremista Sara Fernanda Giromini, que se apresenta como Sara Winter, anuncia que desistiu da militância e vai revelar “a verdade por trás dos ‘300 do Brasil’”.

O anúncio, feito em uma conta que ela mantém no Instagram, pegou até antigos companheiros de extrema direita de surpresa.

“Se juntou à oposição?”, perguntou Marilza Discípula.

A extremista respondeu: “Não, decidi cuidar do meu filho e do meu marido, apenas.”

Ela promete realizar a live amanhã, às 20 horas, na mesma conta no Instagram e avisa que a transmissão não ficará salva.

“Eu realmente cansei e no dia 6, próxima quarta, eu irei revelar a verdade não contada sobre os ‘300 do Brasil’”, escreveu.

Para pessoas que a conheceram na militância, o anúncio da live é, na verdade, uma ameaça.

“Vamos ficar atentos. Ela vai entregar podres. Ou deve ser estratégia para chantagear quem está por trás dela”, comentou uma antiga apoiadora de Bolsonaro, que não quer se identificar.

E quem está por trás dela? “Desconfio da Carla Zambelli, mas não só ela”, respondeu.

Sara Giromini, de 28 anos, já atuou na esquerda e teve ligações com grupos feministas. Coerência nunca foi seu forte.

Ela fez a tatuagem de uma cruz de ferro no peito, um símbolo que remete ao nazismo. O pseudônimo que adotou, Sara Winter, é idêntico ao de uma agente nazista que morou na Inglaterra durante a Segunda Guerra.

Uma foto a mostra ao lado de Carla Zambelli em protesto na avenida Paulista em 2012, cuja autoria foi atribuída ao Femen, entidade fundada na Ucrânia conhecida por protestos em que mulheres ficam nuas ou seminuas com inscrições políticas na pele.

Em 2013, depois de treinamento em Kiev, ela foi proibida de usar o nome Femen no Brasil e uma de suas líderes a acusou de desviar verba para finalidades pessoais e autopromoção.

No mesmo ano, depois de fazer campanha contra o Big Brother Brasil como fonte de alienação, se candidatou para uma vaga da edição de 2014, mas foi rejeitada.

Em 2015, ela passou a atuar em grupos de extrema direita e a combater pautas que antes defendia, como a legalização do aborto.

Em 2016, aproximou-se de Jair Bolsonaro e outros parlamentares de extrema direita e começou a propagar suas bandeiras.

Em 2018, filiada ao DEM, disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Estado do Rio de Janeiro. Teve 17.246 votos e não elegeu.

A ministra Damares Alves a nomeou coordenadora nacional de Políticas à Maternidade do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em abril de 2019.

Sete meses depois, ela deixou o Ministério e passou a organizar o grupo 300 do Brasil, que pretendia realizar um acampamento permanente em Brasília, para pressionar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, em apoio a Jair Bolsonaro.

O grupo passava mensagens ambíguas, mas foi interpretado como parte de um movimento que visava criar um clima favorável para intervenção militar com Bolsonaro no comando.

No dia 30 de maio de 2020, Sara liderou uma marcha com algumas dezenas de pessoas segurando tochas, numa imagem que lembrou as passeatas da Klu, Klux, Klan.

Sara foi alvo de mandado de busca e apreensão e reagiu com ameaças a Alexandre de Moraes, inclusive a empregadas de sua casa.

“A gente vai infernizar a tua vida. A gente vai descobrir os lugares que o senhor frequenta, a gente vai descobrir quem são as empregadas domésticas que trabalham para o senhor, a gente vai descobrir tudo da sua vida”, disse, em vídeo que divulgou.

Alguns dias depois, o grupo atirou fogos de artifício contra o Supremo Tribunal Federal, e militantes de extrema direita ameaçaram ministros.

Moraes, que já presidia o inquérito que apurava a divulgação de fake news contra ministros da corte, determinou a prisão de Sara Winter, mais tarde convertida em domiciliar, com uso de tornozeleira.

Em agosto de 2020, já monitorada eletronicamente, ele continuou a militar na extrema direita, através da rede social, e divulgou criminosamente o nome e o endereço de uma menina de 10 anos que engravidou depois de ser estuprada pelo tio durante quatro anos.

Ela informou o endereço do hospital no Recife que aceitou fazer o aborto com autorização judicial.

Mobilizadas pela publicação, dezenas de pessoas se concentraram na frente do hospital, para tentar impedir o procedimento médico.

Como ela conseguiu o endereço e o nome da menina? Investigadores suspeitaram de Damares Alves, mas esta negou.

Na live que anunciou para amanhã, se cumprir a promessa, Sara Winter poderá provocar abalo no bolsonarismo.

Mas, como se vê pela atuação ao longo dos últimos oito anos, coerência não é o seu forte.

Mas é bom que a live seja gravada, caso ela decida falar de suas relações com Carla Zambelli, Luciano Hang, da Havan, Olavo de Carvalho, Damares Alves, e, claro, Jair Bolsonaro.

Ou pode dizer algumas bobagens e ficar satisfeita.