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Por Moisés Mendes
Dois personagens e a mesma pergunta. Quem levou a sério que Sara Winter e Jake Angeli (o homem das guampas) poderiam protagonizar o papel de líderes de ações espetaculares que levariam a golpes?
Sara Winter sugeria que poderia invadir o Supremo no Brasil. Jake invadiu o Capitólio. Mas poderiam ter ido além do que conseguiram fazer? Os dois foram contidos e parece improvável que alguém tente imitá-los, pelo menos no curto prazo.
Mas vamos às diferenças básicas entre o que um e outro fizeram. Sara Winter acampou na frente do Congresso e promoveu atos com boas aglomerações nos fins de semana.
Bolsonaro não foi sozinho prestigiar Sara Winter. O sujeito esteve muitas vezes nas manifestações e levou generais. Levou até o coronel que está agora de chefe da Anvisa.
Todo mundo sabia quem era Sara Winter, mas Bolsonaro e os militares foram prestigiá-la. Usaram a mulher até a prisão dela, em junho, o que mudou a tática de Bolsonaro de blefar com o golpe.
Fracassou a ideia de que Sara poderia atrair mais gente do mundo virtual para o mundo real. Atraiu 300 que eram na verdade duas dúzias.
Agora, Jake. Também ele é uma figura do folclore da extrema direita, com participações fantasiadas em ações públicas (Sara se vestia de paramilitar, com roupas de camuflagem), mas sem o mesmo poder de atrair gente importante.
Jake era o palhaço da tentativa de tomada do Capitólio, e aí a extrema direita cometeu seu grande erro.
Sara e Jake conseguiram, nesses tempos de celebridades virtuais, cumprir seus papeis de kamikazes da extrema direita. São caricaturas que viraram ícones de uma aparente idiotia.
Sara não foi longe, mas Jake virou a cara da invasão. Agora, tentem imaginar, numa situação inversa, que as esquerdas tivessem, na luta contra o fascismo, duas figuras como Sara e Jake.
Não dá. Não tem como. A extrema direita sofre abalos sérios com personagens que a comprometem.
O último filme de Sacha Baron Cohen, ‘Borat: Fita de Cinema Seguinte’, tem um elenco inteiro de gente que pode a qualquer momento virar um Jake ou uma Sara. Gente da extrema direita.
Todos os que aparecem no filme são, potencialmente, futuros militantes do fascismo carnavalizado. O trumpismo já tem, com esse filme, a obra que o representa (o primeiro Borat foi um ensaio que mexia também com as esquerdas).
Mas quem irá nos oferecer o Borat brasileiro, que nos mostre no cinema as Saras e os Jakes que convivem com todos nós? As aberrações do extremismo nacional estão pedindo um filme.
Precisamos do nosso Borat, mas não depois que os Bolsonaros estiverem na cadeia. Tem que ser agora.
Um filme que conte por que Sara Winter foi abandonada por Bolsonaro e pelos filhos dele e agora vive, em prisão domiciliar, chorando em vídeos na internet.
Sara é a heroína que chegou a ser incentivada por generais e é hoje, com o fim do blefe do golpe, um traste do fascismo. É o que deve acontecer com o homem das guampas.