“Saúde mental de Bolsonaro está em risco e consequências podem ser muito negativas”, diz psicólogo. Por José Cássio

Atualizado em 7 de abril de 2019 às 16:57
Um presidente agressivo, sem talento para as ações do dia a dia e que aposta em ideias pouco ortodoxas (foto: divulgação)

“Kkkkkkkk”.

O riso exagerado de Bolsonaro no Twitter diante dos números do DataFolha, que mostram o seu governo como o mais impopular em primeiro mandato desde 1990, e ainda a constatação de que é visto pelo público como menos inteligente do que Lula e Dilma, acendeu a luz amarela entre os que acompanham a rotina do presidente e especialmente entre os profissionais da saúde mental: a grande maioria entende que o presidente está sob forte pressão e que o resultado pode levar a um estágio de depressão profunda.

Falei sobre o assunto com o psicólogo comportamental e clínico Luciano Passianotto, acostumado a lidar com pacientes em situações severas de ansiedade e angústia.

DCM: Bolsonaro apresenta uma postura saudável psicologicamente?

Luciano – O presidente tem uma personalidade incomum, mas não podemos esquecer que ele sofreu um atentado ainda na campanha, que resultou em procedimentos invasivos e graves problemas de saúde. Isso, inquestionavelmente, afeta a saúde psicológica de qualquer pessoa. Esse episódio tem também outras implicações, como a necessidade de revisão do quanto se sente admirado e do quanto se sente poderoso ou intocável. São impressões que ele demonstrava antes do atentado. Isso somado a visibilidade e peso do novo cargo, que o coloca fora da sua zona de conforto, acarreta em impacto psicológico que afeta sua saúde mental. Podemos observar em várias de suas ações recentes.

DCM: O fato dele admitir fraquezas – “não nasci para ser presidente”, por exemplo – é sinal de estafa mental e depressão?

Luciano: Sejamos realistas. Estamos falando de alguém com problemas imprevistos de saúde, sem habilidade em questões das quais tem que responder e com planos não ortodoxos, que podem muitas vezes ser classificados como fantasias. Ou seja, não estão surtindo o efeito esperado por ele. São fatores suficientes para afetar alguém a ponto de se recolher, a dar um passo atrás ou a rever sua postura. Esse impulso pode ser mais forte do que sua necessidade de se mostrar forte, como anseia seu público mais fervoroso, no qual ele se apoia.  Mas pode também ser só uma estratégia para recuperar um pouco da credibilidade perdida.

DCM: Qual o significado da agressividade nas declarações públicas, considerando que a um chefe de estado compete o papel de moderador?

Luciano: Bolsonaro não demonstra estar muito preocupado com seu papel, mas com resultados que sejam positivos à sua influência e poder. Esse traço de egocentrismo já é percebido por figuras importantes, mas ele parece estar contando com o apoio de uma parcela de seguidores que não detém poder, mas que validam sua posição, em um movimento de negação. Isso beira ao delírio.

DCM: A ausência do sentido de direitos humanos – parabenizou pela morte de 11 pessoas pela PM – é saudável emocionalmente?

Luciano: Uma postura insensível recorrente denota sérias condições emocionais. Essa atitude está também ligada ao seu ego inflamado, entretanto, foi essa ideia que o levou aonde ele está, reforçando-o positivamente. Existe uma suposta representatividade que faz a manutenção desse ego, e da qual ele não se permite evadir. A insensibilidade não o afeta.

DCM: Uma pessoa como ele, agressiva e desconfiada, está preparada para suportar tanta pressão?

Luciano: Agressividade e desconfiança não são, necessariamente, características que ponham a liderança de alguém em desconfiança, mas outras características como a dificuldade de lidar com ideias contrarias ou a inabilidade em gerar coesão são preocupantes. À medida que sua frustração crescer, com as derrotas políticas por conta de suas crenças fantasiosas, pode ser muito prejudicial para sua saúde mental e, consequentemente, para todo o Brasil.

DCM: Que consequências a somatória de crises pode ter no presidente?

Luciano: É difícil dizer, mas considerando seu estado de saúde, sua posição desconfortável em liderar e sua demonstração de falta de habilidade para lidar com muitas situações recentes, sua saúde mental pode estar em risco, com consequências muito negativas.