Se acha tão recomendável, por que FHC não renunciou após a compra dos votos da reeleição? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de outubro de 2015 às 13:57
"Tô gato?"
“Tô gato?”

 

No piquenique do Roda Viva, FHC vestiu uma espécie de fantasia de “golpista moderado” e apresentou novamente sua solução para a crise: a renúncia de Dilma. “Com grandeza”, acrescentou.

Ela “não pode desconhecer o que nós conhecemos, que a economia está em uma situação desesperadora, que há uma crise política. Ela tinha que dizer: ‘eu saio, eu renuncio, mas eu quero que o Congresso aprove isso, isso e isso’”, recitou, como se estivesse dando uma receita de cheese cake.

Isso depois de admitir, mais uma vez, que Dilma é “honrada”.

Essa tese é uma alternativa do PSDB ao impeachment, que não anda. Para quem, como ele, se gaba de “conhecer história mais do que Lula”, é espantosa a naturalidade com que recomenda uma medida extrema, sobre a qual Dilma já se manifestou, como se fosse um elixir mágico.

O pânico de Lula em 2018 — e, por extensão, o medo das urnas — produz esse tipo de raciocínio mandrake. Nós já tivemos Jânio. Na Guatemala, para ficar num exemplo recente, a saída do presidente resultou na eleição de um comediante de direita, um Danilo Gentili um pouco mais alfabetizado, o que não quer dizer nada, chamado Jimmy Morales.

Se é assim banal, por que Fernando Henrique não renunciou quando do escândalo da compra de votos na reeleição? Ou quando sua popularidade estava em 8%, sendo que 65% dos brasileiros avaliavam negativamente sua gestão?

Em 1999, em meio a crise econômica, alta do dólar e grampos do BNDES, Tarso Genro defendeu que  FHC renunciasse. Lula declarou o seguinte: “Fernando Henrique tem 20 e poucos dias de mandato. Ele tem tudo para fazer, mas até agora não fez nada. Se eu achar que, porque as coisas estão ruins, o presidente tem de renunciar, daqui a pouco vai ter gente defendendo a renúncia dos governadores do PT. Aí, vai virar moda no Brasil”.

“Nós aprendemos com a história que não aprendemos nada com a história”, escreveu Bernard Shaw. Para uma oposição que vive em estado de golpismo buliçoso, chefiada por homens como FHC, a frase é uma bênção e uma oportunidade.