Se Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao interferir na PF, por que não falamos seriamente no impeachment? Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 17 de agosto de 2019 às 17:57
Bolsonaro e o Inferno de Dante

O presidente do Psol, Juliano Medeiros, fez uma defesa tímida do impeachment (quase envergonhada) de Jair Bolsonaro, em uma sequência de tuítes postada hoje. Ele lembrou que o presidente cometeu crime de responsabilidade ao interferir na Polícia Federal para tentar obstruir as investigações do caso Fabrício Queiroz, que atinge diretamente um de seus filhos, Flávio Bolsonaro.

Juliano Medeiros fez uma ressalta: o crime de responsabilidade ocorreu caso proceda a notícia publicada na Folha de que a investigação sobre Queiroz é que motivou o anúncio de Bolsonaro de troca de comando na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Até agora, não houve desmentido.

“A Folha afirma que foi a apuração do caso Queiróz que levou à queda do superintendente da PF do Rio de Janeiro. Se isso for comprovado, estaremos diante de um grave crime: obstrução de investigação criminal (Lei 12.850/2013). Nesse caso, Bolsonaro poderia ser alvo de impeachment”, disse ele, através do Twitter.

“A lei do impeachment é clara no Art 12:

São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 1) impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder Judiciário. E o STJ já decidiu que a ‘obstrução da Justiça’ inclui a fase de inquérito”, acrescentou.

Na sequência de suas postagens, lembrou que ainda não existe consenso entre os partidos de oposição sobre o impeachment como estratégia de enfrentamento de Bolsonaro.

“Não quero dizer, com isso, que a estratégia da oposição deva ser a do impeachment nesse momento, quando não há ainda apoio expressivo dos demais partidos a essa opção. Apenas chamo a atenção para lembrar que, se comprovada a denúncia da Folha, teríamos mais um crime de Bolsonaro”, afirmou.

O impeachment, no entanto, pode ser uma alternativa política concreta para cessar os absurdos cometidos pelo presidente da república que colocam em risco a soberania do Brasil. “Nada é pior que Bolsonaro”, disse o sociólogo Jessé Souza.

“Bolsonaro não tem limite, ele é um psicopata, ele é mau, ele é incapaz de ter qualquer forma de empatia especialmente com as pessoas mais frágeis. Para mim, qualquer pessoa é melhor do que Bolsonaro”, disse.

Bolsonaro ganhou a eleição de modo fraudulento, lembrou o sociólogo. “Eleição não é só o voto. E mesmo o voto foi viciado. Por quê? A gente sabe o que fez Moro e toda canalhada da Lava Jato para afastar Lula das eleições, quando Lula tinha o dobro das intenções de voto de Bolsonaro. As eleições, portanto, foram fraudadas ali já”, comentou.

Como não dar razão ao sociólogo?

Depois disso, ainda houve ataque de fake news, através de uma indústria de propaganda que procurou explorar os medos da população de modo desonesto. Só para citar um exemplo: kit gay nunca existiu, mas foi divulgado como se fosse uma proposta de Fernando Haddad.

Bolsonaro sobreviveu quase 30 anos na política por conta de uma estratégia equivocada de seus adversários, que nunca quiseram enquadrá-lo para valer.

Isso desde que defendeu explosões no Rio de Janeiro para enfraquecer o comando do Exército, em 1987. Foi expulso das Forças Armadas, mas reverteu a decisão no Superior Tribunal Militar (STM), apesar da advertência de um dos ministros da corte. 

“Uma centena de punições disciplinares aplicadas a um oficial não chega aos pés de uma só das violações que fez este capitão Bolsonaro do ponto de vista da ética, do ponto de vista do seu comportamento”, disse o ministro José Luiz Clerot.

“Um exame mais aprofundado leva este capitão às profundezas do inferno de Dante. Deixar este capitão continuar nas Forças Armadas, achar que ele não é incompatível com o exercício do oficialato, é uma decisão de muita responsabilidade para esta casa”, enfatizou.

Contra a vontade dos comandantes do Exército, o STM, por 9 votos a 4, manteve Bolsonaro como oficial, embora ele não tenha mais entrado em quartéis como militar da ativa. Foi para a reserva remunerada, aos 33 anos de idade, e enriqueceu na carreira política.

Sempre mostrou a que veio: sabotou a democracia pelo estrada da democracia. Poderia ter sido cassado em diversas oportunidades. Por exemplo, quando defendeu publicamente as milícias, a tortura e o racismo, pregou o fechamento do Congresso e estimulou a cultura do estupro, com ataque a uma colega de parlamento.

Hoje, o comportamento indecoroso dele na presidência da república também é tolerado, sob argumento de que o vice Hamílton Mourão seria igual ou pior. Ou que não haveria ainda apoio popular para tirá-lo da cadeira que ocupa sem honra.

Errado.

É preciso dizer todos os dias, sem receio: “Fora, Bolsonaro!”.

Ele envergonha o Brasil, ameaça a democracia, coloca em risco as instituições de Estado e seu comportamento atrapalha o desenvolvimento econômico.

Se três dos nove ministros do STM que aliviaram para Bolsonaro no julgamento em 1988 tivessem dado ouvido à fala profética de José Luiz Clerot, não teríamos o que boa parte do mundo civilizado considera um insano na presidência.

Mas se optou pela tolerância, e o Brasil, sem fazer a análise aprofundada dos desatinos do “capitão Bolsonaro”, está descendo às profundezas do inferno de Dante.

É preciso coragem para reverter esse quadro.