“Se Bolsonaro não é nazista, ele adora parecer”, diz Gregório Duvivier

Atualizado em 19 de outubro de 2022 às 14:12
Duvivier falando sobre Bolsonaro em seu programa na HBO, Greg News

O humorista e roteirista Gregório Duvivier publicou, em sua coluna da Folha de S.Paulo, um artigo intitulado “Se Bolsonaro não é nazista, ele adora parecer”, na manhã desta quarta-feira (19).

O texto fala sobre a simpatia do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) com a ideologia nazista, lembrando que ele “já tirou fotos com um homem fantasiado de Hitler, escreveu carta agradecendo apoio de neonazista e até inventou que tinha um avô que lutou a Segunda Guerra ao lado dos nazistas”.

“Em circunstâncias normais, configura golpe baixo chamar o adversário de nazista, ou de pedófilo, ou de vagabundo, ou de miliciano”, afirma Gregório no texto. “No caso de Bolsonaro, evitar os palavrões é passar pano pra nazista. Não tem outro nome.”

Leia na íntegra:

É preciso admitir: por muito tempo a gente abusou da palavra “nazista”. Lembro de chamar minha professora de matemática de Hitler porque ela tirava ponto de quem entregasse uma prova rasurada ou amassada. Talvez ela só tivesse TOC. Talvez minhas provas realmente fossem infectas a ponto de serem ilegíveis.

Nos primórdios da internet, o advogado Mike Godwin criou uma lei que passou a levar seu nome: “À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%”. A partir daí, sempre que alguém lança mão da cartada nazista na internet, o adversário retruca com a Lei de Godwin. É o famoso: “Apelou, perdeu”. O golpe baixo chegou a ganhar expressão em latim: “reductio ad hitlerum”. Tinham que inventar um nome pra falácia argumentativa que consiste em lançar mão do latim pra calar a boca do oponente: “reductio ad latinum”. 

A tentativa de frear a comparação desleal gerou uma interdição: quem chama o outro de nazista perde a discussão. Daí o abuso da palavra “nazista” foi substituído pela proibição da palavra “nazista”. O que gerou um novo problema: se o seu interlocutor for, de fato, nazista, é pra chamar de quê?

Bolsonaro disse que a ditadura tinha que ter matado 30 mil, que prefere ter um filho morto a homossexual, já tirou fotos com um homem fantasiado de Hitler, escreveu carta agradecendo apoio de neonazista e até inventou que tinha um avô que lutou a Segunda Guerra ao lado dos nazistas (seu avô chegou ao Brasil no século 19). Ter um avô nazista não deporia contra ele, mas inventar essa árvore genealógica fantasiosa é coisa de nazista. Seu slogan “Brasil acima de todos” é uma apropriação idêntica do lema “Deutschland uber alles”. E eu não vou nem falar do corte de cabelo.

Perguntado sobre Bolsonaro, o próprio Mike Godwin já revogou a própria lei e autorizou: pode chamar de nazista, sim. Michel Gherman, historiador especializado em Holocausto, concorda: o bolsonarismo é um filhote do nazismo. David Duke ex-líder da KKK, já assinou embaixo: “Ele soa como um de nós”. O problema de ter Bolsonaro na disputa eleitoral é que a pura constatação da realidade soa como demonização. Em circunstâncias normais, configura golpe baixo chamar o adversário de nazista, ou de pedófilo, ou de vagabundo, ou de miliciano.

No caso de Bolsonaro, evitar os palavrões é passar pano pra nazista. Não tem outro nome.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link