“Se ele não ganhar, eu vou embora”: MPT pune mais um empresário que coagiu funcionários a votar em Bolsonaro. VÍDEO

Atualizado em 4 de outubro de 2018 às 16:54
Gilmar João Alba constrange seus funcionários para que votem em Bolsonaro

POR RIBAMAR MONTEIRO

A partir de denúncia de cidadãos, o Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul tomou conhecimento de um vídeo em que o empresário Gilmar João Alba, dono da Tabacos D’itália, com sede no município gaúcho de Venâncio Aires, intimida seus empregados a votarem em Jair Bolsonaro, a exemplo do que fez o dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, recentemente punido pela Justiça.

Gilmar diz à platéia de funcionários, em tom de ameaça, que eles não são nada sem os empresários. “se nós, empresas, não existir (sic) no mercado, quem são vocês? Quem são vocês? Vocês são menos ainda… Não vai ser bolsa família que vai ter. Não vai ter bolsa família, não vai ter nada”.

Ele prossegue: “Não vai ter nada porque o Lula não vai ter de quem roubar, porque um presidiário fazendo campanha, e quase querendo ganhar as eleições…”.

Em meio a risos constrangidos, Gilmar intimida supostos eleitores do Partido dos Trabalhadores: “Me desculpem se tem algum PT, depois eu gostaria de saber também se tem algum PT no meio, é uma maravilha em saber e tentar mudar a cabeça dessa pessoa, porque ela tem que pensar um pouquinho nas empresas”.

Por fim, informa a seus subordinados que se Jair Bolsonaro não ganhar, a companhia será fechada e todos perderão o emprego: “Se o Bolsonaro não ganhar, eu vou embora”.

Após audiência realizada ontem (3), no município de Santa Cruz do Sul, o empresário e o MPT firmaram um TAC, Termo de Ajustamento de Conduta, no qual Gilmar se compromete a não praticar mais esse tipo de coação, identificado como assédio moral.

Terá também que desculpar-se e ler para os funcionários o conteúdo do acordo: “O senhor Gilmar se compromete a se retratar perante os trabalhadores e explicar as obrigações assumidas, com participação do sindicato. No ato ocorrerá a leitura integral das obrigações contidas no TAC”, diz o documento, assinado pela procuradora do Trabalho Enéria Thomazini.

O empresário será obrigado a registrar, por meio de ata assinada pelo sindicato, e por outros meios, “inclusive vídeos e fotos”, a leitura do TAC a seus subordinados. O prazo para ele enviar o material comprobatório ao MPT vai até amanhã, 5 de outubro.

No TAC, o MPT ressalta que Gilmar deve respeitar no espaço das relações de trabalho o direito constitucional à “liberdade de consciência, convicção política ou filosófica, a intimidade e a vida privada” de seus empregados, ainda mais “diante da hipossuficiência (o lado mais frágil na relação patrão-funcionário) do empregado, “que o coloca em condição de sujeição à determinação ou orientação empresarial, caracterizando, portanto, COAÇÃO, inadmissível nos locais de trabalho e DISCRIMINAÇÃO em razão de ORIENTAÇÃO POLÍTICA.”

Se Gilmar desrespeitar o acordo, deverá pagar multa de 50 mil reais “a cada situação em que constatado o descumprimento”. Um dos possíveis destinos do dinheiro, caso haja a desobediência, será o Fundo de Apoio ao Trabalhador, FAT.

Abaixo, o vídeo e a transcrição do que Gilmar fala a seus empregados:

Hoje eu resolvi pensar no nosso presidente. No meu presidente, principalmente, por enquanto. Então, eu resolvi juntar vocês todos para botar na cabeça de vocês que nós sem vocês, nós não somos nada. Não temos mão de obra, não temos nada, nós somos ninguém. Nós dependemos de vocês… e essa empresa não vai para frente. Mas se nós, empresas, não existir (sic) no mercado, quem são vocês? Quem são vocês? Vocês são menos ainda. Vocês não têm de onde… não vai ser bolsa família que vai ter. Não vai ter bolsa família, não vai ter nada. Por que que não vai ter nada? Não vai ter nada, porque o Lula não vai ter de quem roubar, porque um presidiário fazendo campanha, e quase querendo ganhar as eleições… me desculpem se tem algum PT, depois eu gostaria de saber também se tem algum PT no meio, é uma maravilha em saber e tentar mudar a cabeça dessa pessoa, porque ela tem que pensar um pouquinho nas empresas. De onde vem o nosso dinheiro, para comer no dia-a-dia, para não roubar, para não matar, para não fazer… só existe o roubo por quê? Existe o roubo porque tem empresa. Porque se não tivesse os empresários, não existiria roubo. Vão roubar de vocês? Ou vocês entre vocês vão se matar? Se não tem a empresa… eu sou um que vou embora. Se o Bolsonaro não ganhar eu vou embora. Se o… (cita nomes de empresas que, supostamente, “pensam” como ele)… e se todos que eu conheço pensarem assim?