
De Londres
Estou aqui, no Hurlingham Park, com uma revista chamada Prospect, que só trata de assuntos sérios. Nada de frivolidades como cobrir a vida de celebridades, nada de dietas ou coisas parecidas.
A seção inicial se chama “If I ruled the world”, “Se eu comandasse o mundo”. Gente interessante, em uma página, desenvolve suas idéias para uma hipotética presidência global.
O convidado desta edição é Terry Eagleton, um dos mais influentes críticos literários britânicos. Eagleton é uma espécie de intelectual relativamente comum na Grã Bretanha, um católico de esquerda. É um polemista dos bons. Há algum tempo, atacou Richard Dawkins, um dos mais inflamados ativistas do ateísmo, fazendo uma comparação divertida. Ele escreveu que discutir teologia com Dawkins equivale a debater biologia com alguém cujo conhecimento se limite ao “Livro das Aves Britânicas”.
Eagleton há pouco lançou um livro cujo título é autoexplicativo: “Why Marx was right”, “Por que Marx estava certo”. O capitalismo moderno, para resumir a controvertida tese de Eagleton, com seu caos globalizado, deu razão a Marx. Como observou um resenhista, basta ver o que aconteceu na Rússia de Stálin para colocar seriamente em dúvida qualquer argumento de Eagleton a favor de Marx e do marxismo.
Bem. É um autor que pretendo em breve,tão logo leia seu livro, entrevistar. Dou notícias assim que as tiver.
Mas.
Mas o que eu queria aqui era discutir uma das idéias de Eagleton. Não é exatamente nova, mas tinha caído em desuso. Ele diz que o futebol é o ópio do povo. As pessoas se entretêm tanto com o futebol, segundo ele, que se esquecem de coisas como cobrar das autoridades uma vida melhor para todos.
Por isso, caso ele dirigisse o mundo, o futebol seria abolido.
Não apoiado.
Se as pessoas são em geral menos combativas do que deveriam, a culpa não é do futebol. A passividade preguiçosa está na essência da condição humana. Temos uma tendência – não inteiramente ruim, aliás – de buscar a sombra e descansar, em vez de trabalhar sob o sol.
A abolição do futebol apenas tornaria a vida ainda mais cinzenta do que já é.
Que seria de mim, por exemplo, se não pudesse dizer algumas verdades a são-paulinos e palmeirenses?