Se Feliciano não perdeu o título de pastor depois de fazer o diabo, por que perderia agora?

Atualizado em 7 de maio de 2014 às 23:55
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A suposta possibilidade de cassação do título de “pastor” de Marco Feliciano significa duas coisas: nada e coisa nenhuma. A Confederação Fraternal das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo, Confradesp, que representa oito mil pastores, encaminhou ao seu conselho de Ética e Disciplina uma denúncia sobre uma entrevista que Feliciano concedeu à Playboy.

Nela, o deputado falou de sua vontade de ser presidente; que “com certeza têm homens que têm tara por ânus”; e que cheirou cocaína na adolescência. Felomenal. A questão, porém, foi ter feito isso numa revista que “não é uma leitura recomendada aos fieis”, segundo um diretor da entidade.

Ou a tal Confradesp está se utilizando da mesma estratégia do governo dos EUA para se livrar de Al Capone — que matou, contrabandeou, roubou, mas foi para Alcatraz por sonegar impostos –, ou se trata de uma palhaçada hipócrita, o que é mais provável.

Se a organização estivesse realmente preocupada com o fato de ter entre seus quadros um homem como Feliciano — cuja empresa, Ministério do Avivamento, é ligada à Assembléia de Deus –, teria dezenas de motivos mais eloquentes e pecaminosos.

Uma das figuras mais desprezíveis a surgir na vida pública nos últimos dez anos, a organização silenciou quando ele sugeriu o “sepultamento dos pais de santo”. Seu discurso de incitação ao ódio nunca mereceu censura (até Marina Silva, também assembleísta, disse que MF era criticado por ser evangélico e não por suas posições políticas).

Não houve uma palavra dessas lideranças quando afirmou que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” e que “a podridão dos sentimentos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição.”

Não se ouviu falar em problemas quando ele pediu o cartão de crédito de uma pessoa e um carro para a filha em seus cultos. Nem quando apareceram seus funcionários fantasmas, como o neto de seu chefe de gabinete, contratado pela Câmara por 3 000 reais para ficar em Orlândia, interior de SP. Segundo o Correio Braziliense, o rapaz é funcionário de um escritório de advocacia que recebeu 35 mil reais por meio de repasse de sua cota parlamentar.

Com tudo isso, Feliciano jamais ganhou uma advertência da associação evangélica. Pode, eventualmente, receber um pito agora. E se, numa possibilidade remotíssima, perdesse o cargo?

Vida que segue. Ele se autodenominará “presidente”, “chefia”, “capitão”, “comandante”, “bispo”, “profeta”, o diabo, e continuará cometendo as mesmas malandragens e abominações de sempre, com o auxílio e os votos dos mesmos de sempre.