Se for mesmo para os Estados Unidos, Moro já vai tarde. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 29 de novembro de 2016 às 18:33
Bye
Bye

Enfim uma boa notícia.

Moro planeja passar um ano nos Estados Unidos, depois da Lava Jato. Seria, segundo a colunista Mônica Bergamo, entre 1918 e 1919.

Bem, antes de tudo, é difícil crer que a Lava Jato chegue ao fim. São já dezenas de operações e fases, e não se vê sinal de desfecho.

É mais provável que ela vá murchando, e murchando, e murchando — até sumir. Onde foram parar aquelas ações espetaculares, transmitidas euforicamente pela mídia?

A real missão da Lava Jato — derrubar o governo de Dilma — já foi alcançada.

Se for mesmo para os Estados Unidos, Moro já vai tarde. O Brasil tem que tirar férias de Moro. De preferência, esquecê-lo, por tudo que ele representou e representa.

Moro simboliza a antijustiça. Ele é a negação do conceito de imparcialidade da Justiça. Nisso tem a companhia de Gilmar Mendes, mas há uma grande diferença entre os dois: Moro tem muito mais poder. Por isso é bem mais deletério que Gilmar.

Gilmar fala muito, mas pode fazer pouco. Moro pode fazer muito sem falar nada.

Quando se fizer um balanço de Moro e da Lava Jato, se verá que os prejuízos superaram amplamente os ganhos.

Combate à corrupção pela metade — só vale pegar petistas — é um mal terrível. Você luta de mentirinha contra a roubalheira. Você usa a Justiça para perseguir seus inimigos, e ponto. Os costumes se corrompem. É o triunfo do cinismo e da hipocrisia.

Considere os efeitos práticos de Moro e sua criatura. Sob o pretexto da corrupção, uma mulher honesta foi encurralada até ficar sem saída e ser apeada do poder.

Tudo isso para colocar no Planalto Temer, Jucá, Geddel e tantos outros do gênero. Se fosse pela corrupção, não seria assim.

No golpe de 1964, pelo menos as aparências foram mantidas inicialmente. A corrupção foi, como agora, brutalmente usada como pretexto pelos golpistas. Mas o militar posto na presidência, Castelo Branco, tinha a aura de um homem incorruptível, simples, frugal. Note: eu disse “aura”.

Nem isso Temer tem. O que o aproxima de Castelo é um detalhe físico: a ausência de pescoço.

Os filhos da Lava Jato são dantescos. Temer é filho da Lava Jato. A crise política e econômica que nos flagela é filha da Lava Jato. A impunidade insuportável de corruptos como Aécio, Serra e Alckmin é filha da Lava Jato.

É este o legado de Moro. Pioramos e muito depois dele. Os fatos, os números, as estatísticas estão aí. Éramos uma democracia que avançava — lentamente, é certo — na igualdade social. Somos agora uma República de Bananas voltada, como sempre aconteceu, para os ricos. Para os privilegiados. Para a plutocracia.

Moro já vai tarde.

Bye.