Se havia alguma dúvida do apoio das Forças Armadas a Bolsonaro, o general Villas Bôas a dissipou. Por Geraldo Seabra

Atualizado em 9 de setembro de 2018 às 14:59
Villas Bôas, comandante do Exército

Se ainda havia dúvidas sobre o apoio das Forças Armadas à candidatura do ex-capitão e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), elas foram dissipadas neste domingo pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o general disse com todas as letras: “ele tem apelo no público militar, porque ele procura se identificar com as questões que são caras às Forças, além de ter senso de oportunidade aguçada.”

Bolsonaro defende a ditadura militar, a tortura, o assassinato de suspeitos de crimes pela polícia e tem como seu grande herói o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sob cujo comando foram assassinados pelo menos 44 presos políticos nas dependências do DOI-CODI, em quartel do II Exército, em São Paulo, durante a ditadura militar instalada no Brasil como golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart, em 1964, e durou 21 anos, até abril de 1985.

Outro ponto em comum que as Forças Armadas têm com Jair Bolsonaro, vítima da violência que defende quando foi esfaqueado durante caminhada em Juiz de Fora na última quinta-feira, segundo o comandante do Exército, é o desprezo por decisões da Organização das Nações Unidas.

Na entrevista, o general Villas Boas considerou o parecer do Comitê de Diretos Humanos da ONU favorável à candidatura de Lula à Presidência da República “uma tentativa de invasão da soberania nacional”.

De acordo com as afirmações do comandante do Exército, decisões da ONU o Brasil só cumpre fora do seu território, como na missão das Nações Unidas de que participou no Haiti. Dentro de nossas fronteiras, elas não valem.

A sintonia das Forças Armadas com a candidatura de Bolsonaro foi demonstrada pelo general Villas Boas em pelo menos outros dois momentos de sua entrevista ao Estadão. Sem nunca ter se manifestado sobre os atentados de que foi vítima a caravana que Lula empreendeu no primeiro semestre, quando o ex-presidente foi atacado por paus, pedras e tiros em sua passagem pelo Rio Grande do Sul e pelo Paraná, o comandante do Exército só enxergou intolerância no ataque a Bolsonaro.

“O atendado é a materialização das preocupações que a gente estava antevendo de todo esse acirramento dessas divergências, que saíram do nível político e já passaram para nível comportamental das pessoas. A intolerância está muito grande. E esse atentado, infelizmente, veio a confirmar essa intolerância generalizada e a nossa falta de capacidade de colocar acima dessas questões políticas, ideológicas e pessoais o interesse do País”, respondeu o general sobre o acirramento dos ânimos nas eleições.

No outro ponto da sua entrevista, o general Villas Boas ultrapassou os limites de suas obrigações constitucionais como comandante militar ao pretender negar a Lula a presunção da inocência consagrada a qualquer cidadão pela Constituição brasileira e o seu direito de recorrer à Justiça, até que venha a ter, se for o caso, sua condenação transitada em julgado.

“O pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos”, disse o general, certamente ignorando que a expressão latina sub judice significa que ainda aguarda uma sentença final sobre o respectivo processo, inocente ou culpado. Pela sua declaração, o general prefere condenar liminarmente.