Se houvesse justiça, as pessoas que levaram o reitor da UFSC ao suicídio estariam sob investigação

Atualizado em 29 de abril de 2018 às 11:48
Cancellier

Publicado no Facebook de Luis Felipe Miguel

Há anos não compro nenhuma publicação da Editora Abril. Hoje, fiz uma exceção, por causa da reportagem de capa da Veja, sobre o inquérito na UFSC que levou à morte do reitor Luiz Carlos Cancellier.

Para resumir a história: com base em indícios frágeis de desvio de um valor indeterminado de dinheiro, a polícia montou uma operação de guerra, invadiu a universidade, prendeu e humilhou o reitor.

O relatório a que a revista teve acesso é a tentativa de justificar tudo isso depois do suicídio de sua vítima.

O que fazem: não agregam nenhum novo indício aos anteriores, ignoram solenemente as respostas que Cau deu às denúncias e montam um libelo acusatório com base (é citação literal) em “comenta-se que”.

Os 80 milhões de desvio anunciados inicialmente pela PF evaporam e o que se tem de “concreto” são depósitos que somam sete mil reais – sim, mil, não milhões – na conta do filho do Cau e que ele não saberia explicar.

Deve ser isso: no país em que o presidente troca benefícios bilionários a empreiteiras por um apartamento furreca, um reitor deve se corromper por sete dinheiros.

(Há dezenas de explicações mais plausíveis, para os depósitos na conta de um jovem que na época era estudante e recebia ajuda financeira do pai, do que a formação de uma “orcrim”, mas a polícia não investiga e não quer saber.)

Cau foi morto pelo ódio dessa gente à universidade e por seu gosto pelo autoritarismo e pela truculência. Os criminosos são o corregedor Rodolfo Hickel do Prado, a delegada Érika Marena e a juíza Janaína Cassol Machado.

Num país onde houvesse justiça, estariam agora sob investigação. Infelizmente, não estamos neste país, estamos no Brasil.