Ri sozinho ao ler no Sensacionalista, o site de gozação jornalística: “Rejeição a Serra cresce e pode ganhar no primeiro turno”.
Ah, as virtudes do bom humor.
Fui me inteirar e vi que uma pesquisa do Datafolha mostrava aquilo, e trazia o encurtamento da distância entre Serra e Haddad na segunda colocação, atrás de Russomano, um franco atirador que está muito aquém da grandeza de São Paulo.
Falo aqui como alguém que votou muitas vezes no PSDB e, algumas, em Serra.
Primeiro: para o PSDB, é bom, paradoxalmente, que Serra perca, de preferência sem sequer chegar ao segundo turno. Isso forçará uma renovação.
Segundo: a renovação tem que se dar também no campo das ideias. Há um consenso, no mundo moderno, de que o problema número 1 da humanidade, hoje, é a iniquidade social. No Fórum Econômico de Davos, em janeiro, isso foi expresso de maneira clara por líderes políticos e empresariais de todas as partes.
Que o PSDB tem a dizer sobre isso?
Nada. Mesmo quem não gosta do PT terá dificuldade em negar que o partido tem uma política consistente em relação à diminuição do abismo que separa ricos e pobres no Brasil. Dilma disse uma vez, depois que uma tempestade matou centenas de pessoas num morro do Rio: enquanto houver tanta miséria, o Brasil não será uma potência.
Na ditadura militar, escrevi sobre isso aqui, a defesa da desigualdade estava numa tese do homem-forte da economia, Delfim Netto. Delfim dizia que você só podia distribuir o bolo depois que ele crescesse.
É uma estupidez. Foi provavelmente sob essa lógica perniciosa que Luís 16 perdeu a cabeça em 1789. Também ele esperava que o bolo crescesse, mas a população não teve tanta paciência assim para esperar.
Se quiser ter relevância na cena política brasileira, o PSDB tem que se reinventar – e disputar com o PT no campo das melhores idéias para reduzir a desigualdade. É uma bandeira que não tem dono. Melhor: que pode e deve ter vários donos.
Os tucanos parecem alheados do mundo novo, em que os 99% estão se movimentando contra os privilégios abusivos do 1%. É preciso ação, é preciso gritar que não é aceitável tanta miséria no Brasil. Não basta, para o futuro do PSDB, FHC falar platitudes em variadas línguas em simpósios internacionais.
Serra sair vai ser o primeiro passo, e provavelmente o eleitorado paulistano cuidará disso. Os demais demandam, essencialmente, um comprometimento com o combate à chocante iniquidade social brasileira. Mas, como disse o sábio chinês Lao-Tzu há mais de 2 000 anos, toda caminhada começa exatamente no primeiro passo.