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Se os militares se preocupassem com “imagem”, já teriam se mandado. Bolsonaro é a cara deles escarrada

Bolsonaro com generais do Exército
Fernando Souza / AFP

Se o governo Bolsonaro está servindo para alguma coisa — fora o genocídio –, é para mostrar que as Forças Armadas não se importam com sua imagem, reputação ou algo do gênero.

É um bando corporativista que agarrou a oportunidade de mamar no estado com unhas e dentes e não vai mudar de ideia porque meia-dúzia de jornalistas considera que isso prejudica a boa fama da instituição.

Janio de Freitas já sugeriu um “exame honesto e profundo” dos generais diante dessa debacle.

Por que o fariam?

A história vai julgá-los, dizem. Quando é esse encontro com a posteridade? Daqui a 50 anos?

Que Pazuello seja julgado hoje. Que ele e o chefe paguem por seus crimes na pandemia agora. Isso é para ontem, não para amanhã.

São  aproximadamente 11 mil militares em bons cargos, absolutamente à vontade, cheios de amor para dar.

Se existisse essa consciência coletiva e essa preocupação com a farda suja, já teriam se mandado há muito tempo — ou derrubado o capitão.

Elio Gaspari, amigo de Golbery e herdeiro de seus arquivos, ajudou a consolidar a mitologia em torno dessa turma com seus tomos sobre a história da ditadura.

A geração anterior pode ter tido um projeto nacionalista. Geisel tinha, ao menos. Figueiredo, seu sucessor, era um cavalariço que odiava o cargo e o povo.

Desde a redemocratização, não tinham tanta moleza.

Onde mais o vaidoso pequeno Heleno teria tantos holofotes? Sujeito tem gabinete, serviçais, prestígio e voz. 

Villas Bôas resumiu a “ideologia” do Exército em seu livro com a FGV: “Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada. A Globo, o reino do politicamente correto, foi o mais importante cabo eleitoral do presidente eleito”.

Esse olavismo infantil norteia o “comandante”, homem tido como “moderado” entre seus pares.

Enquanto o pixuleco garantido por Bolsonaro estiver pingando, ninguém vai romper a ordem unida. 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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