Se a política vira polícia, democracia vira ditadura. Por Fernando Brito

Atualizado em 13 de setembro de 2017 às 9:11
Foto: Lula Marques

No Brasil, a política foi substituída pela polícia.

O cidadão , agora, não precisa ter votos, popularidade, idéias, projetos.

O que não pode é ter inquéritos, processos, sentenças.

Não pode conversar, porque os gravadores pululam.

Va bene, a política nunca foi propriamente um lugar de santos e donzelas, embora dela tenham saído grandes homens e mulheres, que mudaram a história de seus povos.

Mas agora, aqui, ela se tornou um espetáculo policialesco, entregue a escroques da pior espécie, que fazem dos Youssefs, os Funaro, os Joesleys os personagens mais importantes da vida brasileira.

Há três anos, tudo o que se faz no Brasil é destruir: de reputações a usinas, de líderes a empregos, de prosperidade a esperanças.

Não temos mais mãos a nos dar, apenas dedos a apontar, não temos palavras a propor, só a delatar.

Não temos projetos de desenvolvimento, temos cortes como nos tempos em que se acreditava que sangrias e amputações revigoravam um organismo.

Sobretudo, não temos democracia, porque nossas escolhas foram entregues a um grupo de ungidos, cujos cargos lhes dão o poder de decidir por nós.

Nas mãos de um destes estará, hoje, uma flor bruta do povo brasileiro, destas que vicejam um por geração, quando a geração não falha, como a minha.

Não deixa de ser uma ilustração de como a elite brasileira, tão bem arrumada por fora como medíocre por dentro, encara o povo brasileiro: com desprezo, com ódio e com o castigo por violar os salões interditos do poder.

É ela, e apenas ela, quem decidem pelo Brasil. Nem mesmo como em Roma, nem mesmo como no Credo, nem mesmo como no júri popular.

É monocrático, mas não será diferente na assembléia dos ungidos, onde todos se parecem por dentro.

E quando decidem por nós, sejam generais, juízes, delegados ou sacerdotes, o que temos é uma ditadura.

Texto originalmente publicado no blog Tijolaço.