“Se prostituindo”: o ataque misógino de Zezé às mulheres do SBT. Por Nathalí

Atualizado em 16 de dezembro de 2025 às 10:18
O cantor Zezé Di Camargo. Foto: Reprodução

O vídeo de Zezé Di Camargo dando chilique porque o SBT convidou Lula para o lançamento do SBT News é mais um documento histórico dos mais patéticos que o bolsonarismo consegue produzir.

São tantas camadas de arrogância e burrice que dá até agonia de escrever.

Mas há algo que nenhuma feminista deveria deixar passar: a provocação do bolsominion sertanejo foi, sobretudo, misógina — mas o que esperar de um coroa bolsonarista agroboy?

Ao pedir ao SBT que não transmitisse seu especial de fim de ano — um grande favor à audiência do canal —, ele poderia ter dito muitas coisas. Mas escolheu dizer que as filhas de Silvio Santos estavam “prostituindo” o SBT.

“Beijo, amo vocês, amo o SBT, tenho o maior carinho, mas acho que vocês estão — desculpem — se prostituindo.”

Sim, o termo foi usado de forma figurativa. Ainda assim, não deixa de ser machista.

Vamos falar sério: você acha mesmo que esse cidadão usaria essa palavra se os herdeiros em questão fossem homens? Dizer que sim seria, no mínimo, desonesto.

Ele poderia ter dito que as filhas envergonharam o pai bolsonarista, que foram desleais ao legado do SBT ou qualquer outra merda. Mas escolheu fazer alusão à prostituição — uma das coisas mais ofensivas possíveis no imaginário moralista e tacanho de gente como ele.

Se o discurso ridículo fosse direcionado a um homem, o tom seria outro: falaria de alianças políticas, discordâncias ideológicas, decisões estratégicas. Nada de “prostituição”.

Mas, para um bolsonarista misógino como Zezé Di Camargo, “mulher” e “aliança política” não cabem na mesma frase.

Janja, nossa primeira-dama, saiu em defesa das mulheres ao afirmar que:

“Falar que as filhas de Silvio estão ‘prostituindo’ ao convidar e dar voz ao presidente e demais autoridades no evento do SBT News reflete todo o machismo e a misoginia presentes no pensamento e nas ações de homens que seguem desrespeitando a presença de mulheres em espaços de poder, alimentando discursos de ódio contra nós.”

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Janja rebate críticas de Zezé Di Camargo no Instagram. Foto: Reprodução

Os bolsonaristas, claro, dirão que é exagero — e dirão isso porque são burros.

A palavra “prostituir” carrega uma das condutas mais rejeitadas e estigmatizadas no universo moral de gente como Zezé. Não foi “modo de dizer”. Foi machismo em estado bruto.

“Prostituir” traz um peso simbólico historicamente aplicado ao corpo e ao comportamento das mulheres — até o mais ignorante bolsonarista sabe disso.

Mesmo usada “figurativamente”, há uma carga misógina evidente quando o termo é acionado para atacar mulheres em posições de poder.

Não, as mulheres que comandam o SBT não se prostituíram. Apenas compreenderam — coisa que os bolsonaristas mais estúpidos ainda não conseguiram — que atacar Lula hoje é dar um tiro no pé.

As filhas de Silvio Santos não são “prostituídas”. São mulheres fazendo alianças políticas com as quais um macho ressentido não concorda, como se sua opinião realmente valesse tanto assim.

“Eu vivo e dependo do povo brasileiro”, disse ele.

Pois bem: o povo brasileiro está te mandando calar a boca.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.