Texto de Rui da Cruz, servidor do Museu Nacional, destruído pelo fogo que se alastrou com muita facilidade, aparentemente pela falta de manutenção adequada do acervo e do prédio:
Queimamos o quinto maior acervo do mundo.
Queimamos o fóssil de 12 mil anos de Luzia, descoberta que refez todas as pesquisas sobre ocupação das Américas.
Queimamos murais de Pompeia.
Queimamos o sarcófago de Sha Amum Em Su, um dos únicos no mundo que nunca foram abertos.
Queimamos o acervo de botânica Bertha Lutz.
Queimamos o maior dinossauro brasileiro já montado com peças quase todas originais.
Queimamos o Angaturama Limai, maior carnívoro brasileiro.
Queimamos alguns fósseis de plantas já extintas.
Queimamos o maior acervo de meteoritos da América Latina.
Queimamos o trono do rei Adandozan, do reino africano de Daomé, datado do século XVIII.
Queimamos o prédio onde foi assinada a independência do Brasil.
Queimamos duas bibliotecas.
Queimamos a carreira de 90 pesquisadores e outros técnicos.
O que arde no Museu é uma parte da história antropológica da humanidade. Da história científica da humanidade.
Se eles pudessem, nos queimavam junto com as paredes do museu, com o prédio em si, com as salas de onde D. Pedro II reinou, com os corredores por onde transitaram os feitores da primeira constituição da república, se eles pudessem, nos queimavam.
É imensurável o que perdemos.
Eu tô engolindo o choro.
‘Todos que por aqui passem protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir o seu próprio futuro’.
Era isso que vinha escrito no chão, frente ao Museu Nacional.
.x.x.x.
Rui da Cruz Jr é servidor do museu.