Se quiser recuperar um mínimo de credibilidade, Globo terá que tirar do JN Bonner, a cara do golpe de 2016

Atualizado em 2 de agosto de 2020 às 13:40
William Bonner da Globo. Foto: Reprodução/Twitter

Pela enésima vez, o jornalismo de celebridade (ou fofoca) anuncia que William Bonner será substituído na bancada do Jornal Nacional. Desta vez, quem informa é Sônia Abrão, que tem programa na RedeTV, que hoje apoia descaradamente Jair Bolsonaro.

Ela diz que Bonner ficará na apresentação do principal noticiário da Globo até o fim do ano que vem, quando terá terminado — estima-se — a fase mais aguda da pandemia.

Pode ser puro chute, mas a saída de Bonner da bancada faz sentido se a Globo decidir retomar um mínimo de decência jornalística. Explica-se: Bonner está com a imagem associada ao golpe de 2016 e à Lava Jato, pela cobertura desonesta que a Globo faz daquele turbulento momento político.

Chamar de cobertura o que o grupo de comunicação fez pode até se benevolência. A Globo é artífice do movimento que feriu democracia, perverteu a Justiça e prejudicou severamente a economia.

A aliança com a parcialidade de Moro e o ativismo político dos procuradores da Lava Jato ficou demonstrada nos vazamentos, como a da conversa entre Lula e Dilma, publicada fora de contexto; na sentença de Moro, que tem reportagem de O Globo como fundamento; e agora com a criação de debate em que todos os participantes têm a mesma opinião — a favor da Lava Jato; entre outros eventos.

A Globo, como fez 50 anos depois do golpe militar, reconheceu o equívoco de tê-lo apoiado e, em algum momento futuro, se quiser remover essa nova mancha, terá que fazer a mesma mea culpa em relação a 2016.

E será difícil fazê-lo com as imagens associadas ao golpe de 2016 — e a figura de Bonner e Renata Vasconcelos são os principais.

Jamais se poderá esquecer o jogral em que os dois leram trechos da conversa vazada ilegalmente — Dilma, como presidente da república, não poderia ter sido grampeada por Moro, como não poderia ser divulgada conversa interceptada quando já não havia ordem judicial.

Soube-se mais tarde que, no conjunto das conversas grampeadas por Moro, Lula relutou em aceitar o convite de Dilma para ser chefe da Casa Civil. Portanto, ele não buscava foro privilegiado ao ir para o governo como ministro.

Mas essas outras conversas não foram divulgadas à época. E quando o foram, no conjunto da Vaza Jato, a Globo simplesmente sonegou.

Contrariava a campanha que fez para desmoralizar o governo e ajudar a destituir uma presidente que não cometeu nenhum crime de responsabilidade.

Bonner pode ser que saia no futuro. Mas o melhor mesmo é que os brasileiros tenham plena consciência da desonestidade desse grupo de comunicação e deixem Bonner falando sozinho, antes da aposentadoria dele.