
O prolongado período de estiagem que atinge São Paulo tem levado diversas prefeituras a decretar emergência hídrica e buscar novas formas de captação de água. O cenário preocupa não apenas o abastecimento doméstico, mas também os reservatórios de hidrelétricas da bacia do Rio Grande, responsáveis por um quarto da energia gerada no subsistema Sudeste-Centro-Oeste.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação é acompanhada diariamente, com possibilidade de acionamento de termelétricas para evitar o risco de desabastecimento. Em Mairinque, na região de Sorocaba, o governo paulista autorizou captação emergencial em um ribeirão ligado à represa de Itupararanga por 90 dias.
Já em Várzea Paulista, a Sabesp abriu novos pontos de captação para estabilizar a rede e se desculpou com moradores pelas interrupções no fornecimento. Americana e Amparo também decretaram emergência hídrica. Em Amparo, o volume do rio Camanducaia caiu a níveis críticos, e a prefeitura aguarda a liberação de R$ 40 milhões para construir uma nova estação de tratamento de água.
Em algumas cidades, as chuvas de outubro aliviaram a crise. Bauru, que enfrentava racionamento desde agosto, normalizou o abastecimento após as precipitações, mas mantém o monitoramento constante do reservatório.

No entanto, nas represas da bacia do Rio Grande, que abastecem tanto São Paulo quanto Minas Gerais, o quadro continua grave. Água Vermelha opera com apenas 24,5% da capacidade, seguida por Marimbondo (29,1%) e Furnas (36,6%), segundo a Axia Energia, responsável pela gestão. Na Grande São Paulo, a situação também é delicada.
A SP Águas suspendeu novas outorgas nas bacias do Alto Tietê e Piracicaba, enquanto a Sabesp reduziu a vazão noturna para economizar água. Segundo o governo Tarcísio de Freitas, a medida evitou o consumo de 25 bilhões de litros, o equivalente ao gasto de quatro grandes municípios da região em dois meses.
Nesta quarta-feira (22), o Sistema Integrado Metropolitano operava com 29,1% da capacidade, com destaque negativo para os sistemas Cantareira (24,6%) e Alto Tietê (23,1%), no menor nível desde 2015. O ONS afirmou que o baixo nível dos reservatórios pode exigir o uso maior de termelétricas, encarecendo a operação energética.
“O principal desafio é o atendimento à ponta de carga, horário em que a demanda atinge valores elevados”, informou o órgão. Ainda segundo o operador, a diversificação da matriz energética e a interligação dos reservatórios ajudam a reduzir impactos da estiagem.
Especialistas alertam para a necessidade de medidas estruturais e planejamento antecipado. Para o biólogo Samuel Barreto, gerente de águas da ONG The Nature Conservancy Brasil, os municípios precisam investir em soluções de captação antes das crises. “Não dá para ficar rezando para São Pedro quando vem a seca”, afirmou.