Seguidor de Bolsonaro que planejou ataque a festa da UnB em 2012 volta a ser preso pela PF

Atualizado em 10 de maio de 2018 às 15:46
Marcelo Mello

Publicado no Correio Braziliense

A única pessoa alvo de mandado de prisão na Operação Bravata — deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (10/5) para combater crimes via internet — é o brasiliense Marcelo Valle Silveira Mello, que ganhou o notíciário nacional depois de ser flagrado, em 2012, planejando pela internet ataque a uma festa de alunos da Universidade de Brasília (UnB). 

Por esse episódio, ele passou mais de um ano preso e, em 2013, foi condenado a pena no regime semiaberto. Segundo investigações da Polícia Federal, no entanto, ele não deixou de praticar crimes de ódio. Segundo a PF, no âmbito da Bravata, ele responderá pelos crimes de associação criminosa, ameaça, racismo e incitação ao crime.

“Nos sites e fóruns mantidos na internet, (os envolvidos) incentivam a prática de diversos crimes, como o estupro e o assassinato de mulheres e negros, bem como pelo crime de terrorismo”, informou a corporação em nota, que cumpre ainda oito mandados de busca e apreensão em Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Santa Maria (RS) e Vila Velha (ES). Marcelo também é acusado de ameaçar, com bombas, diversas universidades do Brasil.

Mello foi o primeiro condenado da Justiça brasileira por crime de racismo na internet, em 2009. Estudante do curso de Letras-Japonês da Universidade de Brasília, ele foi punido com um ano e dois meses de prisão por agredir alunos cotistas da instituição na internet. Em 2005, escreveu mensagens no Orkut dizendo que negros eram “burros, subdesenvolvidos, incapazes e ladrões”. Nessa ocasião, ele recorreu da decisão e, alegando insanidade, foi absolvido.

Em março de 2012, Marcelo foi detido por planejar uma chacina contra estudantes do curso de Ciências Sociais da UnB. Durante buscas realizadas em Brasília e em Curitiba, os policiais encontraram um mapa apontando uma casa de festas frequentada pelos universitários no Lago Sul. Local onde, segundo a PF, poderia ocorrer a tragédia.

Por esses crimes, ele foi condenado a seis anos e sete meses de prisão em regime semiaberto. A Justiça do Paraná entendeu que ele havia praticado os crimes de indução à discriminação ou preconceito de raça; incitação à prática de crime; e publicação de vídeos e fotografias de crianças e adolescentes em cenas de sexo.

Ele ficou detido por um ano e seis meses no Paraná, ganhou o direito de cumprir pena em liberdade e voltou a criar páginas com conteúdo racista e discriminatório na internet. Ele também é o autor de um blog misógino que incitava crimes de violência sexual, física, psicológica e moral contra mulheres na UnB.

No ano passado, uma conta de e-mail com o nome Marcelo Valle Silveira Mello enviou mensagens ameaçando de morte o apresentador e jornalista Fernando Oliveira, mais conhecido como Fefito. O motivo do ataque seria homofobia.

Em janeiro deste ano, Valle, que é analista de sistemas, voltou aos noticiários ao criar a moeda virtual BolsoCoin. Uma criptomoeda inspirada no candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), e vendida como a primeira “da direita alternativa e neonazista do Brasil”.

A BolsoCoin estava sendo utilizada em fóruns anônimos como forma de pagamento para usuários que fazem doxxing ou  swatting em favor da causa do grupo. O primeiro termo faz referência à prática de conseguir e transmitir dados privados a terceiros. Geralmente, leva a crimes de chantagem ou a tentativas de destruição da reputação da vítima.

Já o swatting é uma tática que consiste, basicamente, em passar um trote às forças de segurança. O hacker aciona os serviços de emergência e os envia à casa de uma pessoa onde não há ocorrência, com o objetivo de causar constrangimento.

Na época em que a criação da criptomoeda foi divulgada pela imprensa, a assessoria de Bolsonaro não se pronunciou. 

Bolsocoin, criptomoeda baseada em Bolsonaro. Foto: Reprodução