Segundo livro, não há provas de que Raul Seixas 
tenha delatado Paulo Coelho

Atualizado em 24 de outubro de 2019 às 13:16

Publicado no Nocaute

POR FERNANDO MORAIS

Mal foi lançado e já está provocando polêmica o livro “Não diga que a canção está perdida”, biografia de Raul Seixas escrita pelo jornalista Jotabê Medeiros. Um documento descoberto pelo autor nos arquivos do Exército levantou a suspeita de que a prisão de Paulo Coelho, em maio de 1974, teria sido decorrência de informações passadas por Raul ao DOI-Codi. O documento é importante, mas não prova isso.

Tenho sido procurado por jornalistas para opinar sobre o trecho do livro “Não diga que a canção está perdida” de autoria de Jotabê Medeiros, biografia de Raul Seixas, que trata da prisão em 1974 de Paulo Coelho e Adalgisa Rios, sua namorada, por agentes da ditadura militar.

O documento, obtido por Jotabê Medeiros, é autêntico e eu o teria publicado, se fosse o autor do livro.

O documento, porém, não revela que Raul fez depoimento no dia 22 de abril (veja ilustração). Não é possível saber, sequer, se ele estava presente quando esse documento foi produzido. Observe-se que em nenhum momento aparece “declarou”, “revelou”, “informou”. Não se tratava de um interrogatório ou uma tomada de depoimento. O papel não é assinado por Raul. O único informante que aparece no documento do CIEx é um certo “Douglas Alberto Rilke-Jones (Geraldo)”, que, preso pelo DOI-Codi, teria citado o nome de Gisa, namorada do Paulo e suspeita, segundo a polícia, de ser militante do PC do B. O que o documento determina é que, “por intermédio do referido cantor [Raul]” se tente “localizar e prender” Paulo e Adalgisa

Chama a atenção que o todo-poderoso DOI-Codi tenha levado mais de um mês para prender Paulo e Gisa, que embora acusados de militância em organizações armadas (informação falsa), viviam normalmente, não estavam clandestinos, trabalhavam, moravam, dormiam e acordavam em endereços certos e sabidos.

Para escrever o livro “O Mago”, convivi cerca de quatro anos com Paulo Coelho. Em nenhum momento ele levantou ou insinuou alguma suspeita sobre Raul. Nunca. Nem com o gravador ligado nem sob sigilo.

Até que surja alguma nova informação, o que esse documento prova é que no dia 22 de abril de 1974 o trio Raul-Paulo-Gisa entrou no radar do CIEx/DOI-Codi.