Segundo Quaest, Lula já tem 53% dos votos válidos no Rio. Por Miguel do Rosário

Atualizado em 14 de julho de 2022 às 14:36

Publicado no Cafezinho

Lula criticou as últimas medidas de Bolsonaro em relaçaõ ao preço dos combustíveis
Ex-presidente luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Ricardo Stuckert

Uma peculiaridade importante a ser observada, quando analisamos o cenário político fluminense, é que em nenhuma outra unidade da federação há uma população tão concentrada na capital.

Na capital estão concentrados 39% dos eleitores fluminenses, ou cerca de 5 milhões de cidadãos autorizados a votar.

Para se ter uma ideia, a capital mineira, Belo Horizonte, tem apenas 12% dos eleitores do estado.

A capital paulista, por sua vez, abriga 28% dos eleitores do estado de São Paulo.

Vamos começar nossa análise da última pesquisa Quaest, divulgada hoje, por esse ângulo.

A pesquisa Quaest fez 1.200 entrevistas pessoais, domiciliares e presenciais, entre os dias 8 e 11 de julho e custou R$ 123,5 mil, pagos pelo banco Genial Investimento.

Temos cenários eleitorais para os cargos de presidente, governador e senador.

Na sondagem dos votos para presidente da república, Lula lidera na capital, com 44% dos votos totais, 13 pontos acima de Bolsonaro, com 27%, e 37 pontos à frente de Ciro Gomes, que marca apenas 7%

Fazendo a conversão para votos válidos, o petista já tem 53% na capital, um crescimento de 8 pontos sobre a pesquisa anterior, realizada em maio, contra 32% para Bolsonaro, que perdeu 7 pontos no mesmo intervalo. Ciro Gomes ficou estável, em torno de 8%.

O problema de Lula no Rio, portanto, não está na capital, onde ele lidera com muita folga, e sim na Baixada e no interior, onde o petista segue empatado com Bolsonaro.

Segundo a Quest, Lula tem 38% dos votos totais na Baixada, e 35% no interior, ligeiramente atrás de Bolsonaro, que tem 39% e 37%, respectivamente, nessas regiões.

Agora vamos para os números gerais.

Segundo a Quaest, Lula experimentou uma importante recuperação no Rio de Janeiro (agora estamos falando do estado como um todo). O ex-presidente chegou a pontuar 39% em março, caiu para 35% em maio e agora voltou a 39%.

Bolsonaro, por sua vez, oscilou um ponto para baixo desde maio, mas ainda está acima do que tinha em março. No cenário ampliado, o presidente tem hoje 34% das intenções de voto no Rio de Janeiro.

Num cenário com menos candidatos, Lula e Bolsonaro crescem dois pontos cada um e vão para 41% e 36%, respectivamente.

Ciro Gomes tinha 7% em março, em cenários sem Moro (e 5% em cenários com Moro), oscilou para 6% em maio, e hoje tem 6% no cenário ampliado e 7% num cenário mais enxuto.

A força de Bolsonaro está concentrada sobretudo no eleitorado evangélico, onde ele tem 51% dos votos totais, mais que o dobro do que possui Lula (24%) neste segmento. Este cenário apresenta estabilidade em relação a última pesquisa, de maio.

Interessante observar, contudo, que a máquina evangélica bolsonarista é mais forte no Rio de Janeiro do que em outros estados.

Em Minas Gerais, por exemplo, a última pesquisa Quaest, de 2 a 5 de julho, mostrou que Lula tem 36% das intenções de voto dos evangélicos mineiros, apenas 3 pontos atrás de Bolsonaro, com 39%.

A última sondagem da Quaest no estado de São Paulo, igualmente feita em julho, traz Lula com 27% dos votos evangélicos paulistas, contra 42% para Bolsonaro.

Na Bahia, por outro lado, Lula tem 43% dos votos evangélicos, contra 30% de Bolsonaro, segundo pesquisa feita em maio.

Na última Quaest nacional, Bolsonaro tem 45% dos votos evangélicos, contra 31% para Lula.

Ciro Gomes tem tido desempenho particularmente fraco entre evangélicos. No Rio de Janeiro, o pedetista pontua apenas 4% entre eleitores deste segmento.

Segundo a Quaest, os evangélicos correspondem a 31% do eleitorado fluminense (contra 38% de católicos). A nível nacional, evangélicos representam 28% do eleitorado brasileiro (contra 51% de católicos).

Uma característica do estado do Rio é uma participação relativamente alta de outras religiões (11%) ou mesmo do eleitorado sem religião (19%). Na média nacional, o grupo de “outras religiões” e ou que não tem religião representa 4% e 15%, respectivamente.

Segundo os números mais atualizados do TSE, o estado do Rio de Janeiro tem 12,8 milhões de eleitores. É o terceiro maior colégio eleitoral do país, depois de São Paulo, com 34,6 milhões de eleitores, e Minas Gerais, com 16,3 milhões.

Entretanto, em termos de PIB, o Rio superava Minas no último censo do IBGE, de 2019, ocupando o segundo lugar no ranking nacional, com uma riqueza produzida de R$ 780 bilhões.

Nas projeções de segundo turno, Lula vence Bolsonaro com relativa folga no estado do Rio, com 47% versus 38% para Bolsonaro. Houve estabilidade desses números em relação à pesquisa de maio.

Ainda segundo a Quaest, 54% dos eleitores de Ciro no primeiro turno devem migrar para Lula num eventual segundo turno contra Bolsonaro (outros 16% votariam em Bolsonaro e 26% anulariam o voto).

Repetindo o padrão que vemos nacionalmente, Lula tem desempenho melhor entre eleitores fluminenses de baixa renda. Lula tem 47% dos votos totais dos eleitores com renda familiar até 2 salários, quase 20 pontos acima do segundo colocado, Bolsonaro, que tem 28%, e 44 pontos acima de Ciro Gomes.

Em votos válidos, Lula está chegando perto dos 60% da preferência dos eleitores fluminenses mais pobres, ou 57% para ser preciso, tendo experimentado um aumento de 3 pontos sobre os números de maio.

Ciro ainda não conquistou a simpatia eleitoral dos fluminenses de baixa renda, e segue com 3% dos votos totais neste segmento (ou 4% dos válidos).

Outro perfil do eleitorado no qual Lula se destaca muito no Rio de Janeiro (também repetindo um padrão nacional) é o jovem com até 24 anos. Nesse segmento, Lula tem 49% dos votos totais, mais de 20 pontos acima de Bolsonaro, com 27% e 44 pontos acima do terceiro colocado, Ciro Gomes, que tem apenas 5%.

Bolsonaro empata com Lula, no Rio de Janeiro, entre eleitores com idade entre 25 e 44 anos.

Lula tem grande vantagem sobre Bolsonaro entre eleitores com escolaridade até o ensino fundamental, 49% X 28%. Esse eleitorado corresponde, segundo a Quaest, a 30% da população votante do Rio de Janeiro. Entre eleitores com até o ensino médio, que representam 43% do total, Lula mantém ligeira vantagem sobre Bolsonaro, 39% X 36%.

Bolsonaro, todavia, ainda lidera entre eleitores fluminenses com ensino superior, chegando a 37%, contra 30% de Lula. É nessa faixa também que Ciro tem uma pontuação um pouco melhor, chegando a 10%.

A pesquisa espontânea da Quaest captou um crescimento muito vigoroso de Lula no Rio de Janeiro. O petista cresceu 8 pontos desde maio, passando de 23% para 31% dos votos, ao passo que Bolsonaro avançou apenas duas casinhas, e chegou a 27%.

Ciro Gomes tem apenas 3% na espontânea e todos os outros candidatos, somados, totalizam 1%.

Um dos gráficos divulgados pela Quaest, com um cenário mais enxuto, mostra um crescimento de seis pontos para Marcelo Freixo, que passa de 19% para 25%, empatando com Claudio Castro, que oscila 1 ponto para baixo, de 27% para 26%.

A pesquisa não é muito boa, por outro lado, para Rodrigo Neves (PDT), que ficou estagnado com 9%. O seu novo parceiro de chapa, Felipe Santa Cruz, do PSD de Eduardo Paes, também aparece com pontuação baixa, com 2% a 3%.

Assim como Lula, o grande desafio de Freixo será melhorar seu desempenho na Baixada e no interior. Na capital, Freixo lidera a pesquisa, com 31% dos votos totais no cenário I, contra 23% de Bolsonaro e 4% de Rodrigo Neves.

A Quaest também mediu a força dos apoios nacionais na disputa pelo governo do estado, mas os números apontam um relativo equilíbrio. Tanto Castro como Freixo até crescem, expressivamente, quando os eleitores são informados sobre seus padrinhos políticos, mas o avanço é parecido para ambos, e ao final os dois acabam com 33%.

Nesse quesito, Neves também leva a pior, pois o apoio de seu padrinho Ciro Gomes é o que menos lhes beneficia: ele ganha apenas 1 ponto, passando de 6% para 7%.

O apoio do prefeito Eduardo Paes (PSD) também não parece contribuir muito para seu afilhado político, o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que passa de 3% para 4%.

Quando se examina a distribuição das intenções de voto conforme a avaliação do governo Claudio Castro, constata-se que o deputado Marcelo Freixo está conseguindo comunicar ao eleitor que ele é o principal candidato de oposição. Entre eleitores fluminenses que avaliam negativamente o governo Castro, Freixo lidera isoladamente, com 38% das intenções de voto, ao passo que Rodrigo Neves, por exemplo, tem apenas 6% neste segmento, número não muito diferente do que registra entre eleitores que avaliam positivamente Casto, ou que o consideram “regular”.

Disputa para o Senado

Na pesquisa para a vaga de senador pelo Rio de Janeiro, o cenário ainda é muito favorável ao nome mais conhecido, Romário, que hoje tem 32% das intenções de voto, na estimulada.

Disputando a vaga pelo campo progressista, Molon e Ceciliano ainda estão longe. O primeiro oscilou 1 ponto para cima e chegou a 11%. O petista, que hoje tem apoio oficial do ex-presidente Lula e de seu partido, cresceu 3 pontos e chegou a 5%.

Abaixo, alguns gráficos com cenários estratificados da Quaest da disputa para o Senado.

Molon é mais forte na capital, onde chega a 18% dos votos totais, contra 6% para Ceciliano. Na Baixada, porém, Molon tem 8%, contra 4% de Ceciliano. E no interior, ambos tem 3%.

Até o momento, o voto em Molon está muito concentrado entre eleitores com renda familiar acima de 5 salários, entre os quais ele tem 15%, contra 5% de Ceciliano. Os eleitores com renda acima de 5 salários representam 26% do eleitorado fluminense.

Entre eleitores com renda até 2 salários, que representam 35% do eleitorado no estado, Molon tem 9%, contra 5% de Ceciliano. E entre aqueles com renda de 2 a 5 salários, 39% do eleitorado fluminense, os mesmos percentuais se repetem para Molon e Ceciliano, 9% e 5%.

Conclusão

Lula e Freixo colheram boas notícias no Rio de Janeiro. Ambos cresceram e experimentam uma liderança muito sólida na capital do estado.

O desafio de ambos é parecido: crescer na Baixada e no interior. Como são regiões com renda per capita muito baixa, ou seja, onde predominam eleitores de baixa renda, Lula poderá ainda avançar nessas áreas. Talvez a maior dificuldade para o campo progressista seja contornar a máquina evangélica bolsonarista fluminense, que ainda segura o voto lulista na Baixada e no interior.

A íntegra da pesquisa Quaest pode ser baixada aqui.

Publicado originalmente em O Cafezinho

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