Seis perguntas sobre o futuro imediato da Argentina. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de novembro de 2023 às 7:20
Recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei. (Foto: Reprodução)

Javier Milei assume daqui a pouco, no dia 10 de dezembro. Abaixo, seis perguntas, com alguns desdobramentos, sobre o que acontecerá a partir da posse do fascista na presidência da Argentina.

A prometida dolarização imediata já está descartada, mas o que ele poderá fazer para não frustrar os que acreditaram em suas mágicas?

Estas são algumas das perguntas sobre os próximos dias e meses:

1. Como Javier Milei irá calibrar suas ações mais imediatas, considerando-se as expectativas criadas em várias áreas? Fechar o Banco Central e fazer privatizações podem ser medidas de alto impacto, mas com efeito de curto e médio prazos quase nulo. Quanto tempo ele levará para oferecer respostas às questões essenciais e urgentes, como inflação, desabastecimento, baixas reservas em dólar, desemprego e sentimento de desesperança?

2. Milei obteve apoio de Mauricio Macri e Patricia Bullrich, derrotados pela própria ascensão da extrema direita no primeiro turno. Macri, padrinho de Patricia, sobrevive porque se aliou no segundo turno a Milei em meio à pulverização da velha direita que ele representa no partido PRO (Proposta Republicana). Qual será a influência dele e de Patricia no poder a ser montado, diante da possibilidade de que venham a indicar nomes a Milei? Como o arrogante Milei aceitará essas interferências da direita macrista, sabendo que dependerá dessa turma no Congresso para poder governar?

3. Como será a relação de Milei com a elite econômica, em especial com o agronegócio, que é poderoso no país? Como irá se relacionar com a União Industrial Argentina, que se manteve calada durante todo o processo eleitoral e não assumiu a defesa do extremista, adotando a mesma postura da elite econômica brasileira em relação a Bolsonaro? A elite argentina poderá tutelar Milei, para que ele seja mantido sob controle, ou o sujeito será incontrolável?

Alberto Fernández, atual presidente da Argentina. (Foto: Reprodução)

4. O que acontecerá com o peronismo? Alberto Fernández deixa o governo como um frouxo, Cristina Kirchner não participou da campanha e Sergio Massa, derrotado, anuncia sua aposentadoria. A figura desafiada a levar o peronismo ferido nos ombros é o governador reeleito da província de Buenos Aires, Axel Kicillof. O que pode acontecer com Cristina, com a derrota do peronismo, diante do previsível aperto do cerco da Justiça? Cristina, sem imunidade, poderá ser presa?

5. O povo dará quanto tempo de trégua a Milei, até começar a fazer as cobranças típicas dos argentinos, que mantêm a capacidade histórica de afrontar, de mobilização e de ocupação das ruas? O peronismo, ainda forte na grande Buenos Aires (mesmo que a capital tenha eleitorado de direita), poderá fazer com Milei o que fez com Fernando de la Rúa, da União Cívica Radical, que foi pressionado pelas esquerdas e teve de renunciar em 2001, no meio do mandato? O povo poderá derrubar Milei?

6. Milei poderá atiçar a índole golpista dos militares? Sua vice, a deputada Victoria Villarruel, já deu sinais de que pretende conter o ativismo das Mães e Avós da Praça de Maio, cortar o pagamento de indenizações a perseguidos políticos e revisar a memória da ditadura. Milei terceirizou para Victoria todas as questões referentes ao negacionismo da tortura e de todas as violências cometidas. Ela é a encarregada da exaltação dos militares. Os generais poderão mostrar as unhas de novo?

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

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