
Autoridades colombianas resgataram 17 menores ligados à seita judaica ultraortodoxa Lev Tahor em uma operação realizada no último sábado (22), em um hotel de Yarumal, no departamento de Antioquia. A ação, anunciada no domingo (23), revelou que parte das crianças tinha ordens de busca emitidas pela Interpol por sequestro e tráfico de pessoas. O grupo, que se deslocou por países como Estados Unidos, Guatemala e Canadá, já é alvo de acusações graves em diferentes nações latino-americanas.
Segundo o departamento de Migração da Colômbia, há “indícios de que alguns deles teriam sido raptados, o que configuraria um possível cenário de tráfico de pessoas sob amparo de doutrina religiosa”.
As autoridades afirmam ainda que os integrantes estariam “procurando um país onde não houvesse restrições para poder dar prosseguimento a supostas atividades irregulares”. Ao todo, 26 pessoas foram identificadas.
Os menores resgatados foram levados ao Centro Facilitador de Serviços Migratórios de Medellín, onde receberam apoio psicológico e assistencial. A comunidade judaica na Colômbia comemorou a operação. O professor Marcos Peckel afirmou à BBC que a ação foi “rápida e oportuna” e destacou que “a Lev Tahor é contrária à lei e às tradições judaicas”.
Autoridades na Colômbia resgataram 17 menores da seita judaica ultraortodoxa Lev Tahor 🇨🇴
A operação aconteceu na cidade colombiana de Yarumal. Entre os integrantes identificados, as autoridades encontraram ligações com suspeitas de crimes contra menores, incluindo condenações… pic.twitter.com/VNVLa4oJiz
— BBC News Brasil (@bbcbrasil) November 26, 2025
Fundada em 1988 em Jerusalém pelo rabino Shlomo Helbrans, a seita Lev Tahor, que significa “coração puro” em hebraico, reúne entre 250 e 500 membros. Desde sua criação, acumula denúncias de abuso infantil, pedofilia, sequestro, negligência, casamentos forçados e controle extremo sobre seus seguidores. Por décadas, seus integrantes mudaram repetidamente de país para escapar da fiscalização.
Nos anos 1990, a seita se estabeleceu nos Estados Unidos, onde Helbrans foi preso por sequestro, cumpriu pena e depois foi deportado para Israel.
Posteriormente, o grupo se mudou para o Canadá, onde enfrentou acusações de negligência infantil. Em seguida, migrou para a Guatemala, onde novamente enfrentou expulsões, denúncias de maus-tratos e investigações por parte do Ministério Público local.
A morte de Helbrans em 2017, durante um ritual no México, levou a liderança da seita ao seu filho, Nachman Helbrans, apontado como ainda mais radical. Em 2018, um caso de sequestro envolvendo dois menores levou à prisão de quatro integrantes da seita nos Estados Unidos.
Na Colômbia, moradores de Yarumal perceberam a presença atípica do grupo, que mantém rígidos costumes alimentares e de vestimenta.
As mulheres usam roupas pretas cobrindo todo o corpo, e os homens vestem trajes tradicionais, com barba longa, chapéu e vida totalmente austera. Eles evitam tecnologia e só consomem alimentos preparados segundo suas próprias interpretações extremas do kashrut.
Nos últimos anos, a Lev Tahor tentou se estabelecer em países da Europa Oriental e dos Bálcãs, mas foi deportada repetidas vezes. O temor agora é que busquem transformar áreas remotas da Colômbia em novo refúgio.