Sem anistia à vista, bolsonaristas exploram chacina no Rio para recuperar fôlego

Atualizado em 1 de novembro de 2025 às 16:08
Bolsonaro e família durante ato de apoio a anistia. Foto: Reprodução

Com a pauta da anistia a Jair Bolsonaro enfraquecida no Congresso, os filhos do ex-presidente voltaram suas atenções para a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão. Desde terça-feira (28), Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro intensificaram publicações nas redes sociais associando o episódio à “incapacidade” do governo Lula em conter o avanço das facções criminosas. As informações são de Lauro Jardim.

O mais ativo na ofensiva digital é Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que tenta se projetar para a disputa pela reeleição ao Senado em 2026. Em apenas quatro dias, o senador fez cerca de 50 postagens exaltando a política de segurança do governador Cláudio Castro (PL) e do próprio pai, defendendo uma polícia “forte e sem amarras ideológicas”. Ele também tem usado o espaço para atacar ministros de Lula e repetir o discurso de que o governo “defende bandidos”.

Como presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, Flávio busca capitalizar o tema em meio à instalação da CPI do Crime Organizado, da qual será membro titular, ao lado de Sérgio Moro (União-PR). A estratégia mira em consolidar o campo bolsonarista como o principal defensor da retórica da “lei e ordem”, aproveitando a repercussão da chacina para pressionar o Planalto.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vinha se concentrando nas relações entre Lula e Donald Trump, também aderiu à pauta da segurança. Ele tem compartilhado vídeos da operação e críticas a ministros do governo federal. Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) seguiu o movimento, embora com menos intensidade. O caçula, Jair Renan, manteve-se ausente da mobilização.

A mudança de foco ocorre em um momento delicado para o clã, com o pedido de anistia a Bolsonaro praticamente fora do radar político. A operação no Rio — tratada como “sucesso” por governadores aliados — se tornou um novo ponto de convergência entre os herdeiros do bolsonarismo e as alas mais radicais da direita, que exploram o tema para enfraquecer a narrativa de que Lula mantém controle sobre a segurança nacional.

A família aposta que a comoção e o discurso do medo impulsionarão o capital político da extrema direita, enquanto o governo federal tenta se defender das críticas e reforçar o discurso de que a segurança é responsabilidade dos estados. Nas redes, o bolsonarismo busca transformar a tragédia em trampolim eleitoral — uma estratégia que reedita o tom de campanha de 2018, com o mesmo apelo à violência como solução política.