“Sem anistia”: funcionário de estatal protesta contra Tarcísio e é demitido

Atualizado em 16 de setembro de 2025 às 13:48
O governador Tarcísio de Freitas durante leilão do lote de rodovias Paranapanema, na B3. Foto: Reprodução

O professor e economista Ivan Paixão, de 40 anos, foi demitido da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que presta serviços para a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), após gritar “sem anistia” ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O episódio ocorreu em 5 de setembro, quando o governador seguia a pé para a B3, no centro da capital, para acompanhar o leilão do lote Paranapanema de rodovias. Segundo Ivan, ele estava em um café próximo ao prédio da CDHU, sem uniforme ou crachá, quando avistou Tarcísio cercado por seguranças.

Em protesto contra a articulação do governador pelo projeto de anistia a golpistas, ele gritou duas vezes “sem anistia”. O governador percebeu a manifestação e, de acordo com o economista, chegou a acenar em sua direção.

Pouco depois, Ivan notou que um homem, que acredita ser da equipe do governador, o observava de uma lanchonete próxima. “Devia estar sendo vigiado, como um segurança”, comentou. O ex-funcionário suspeita que ele tenha tirado fotos suas para identificação.

Na segunda seguinte, 8 de setembro, Ivan foi comunicado de sua demissão. Ele afirma que colegas da Fipe disseram que o presidente da CDHU, Reinaldo Iapequino, havia ligado no fim de semana exigindo seu desligamento imediato.

Reinaldo Iapequino, presidente da CDHU. Foto: Divulgação

“Falaram que tinha um relatório com o meu nome e que era para me desligar imediatamente, sem explicar o porquê”, contou ao portal Metrópoles. O economista disse ainda que a própria Fipe não sabia justificar o motivo real da dispensa.

“Meu chefe chegou a perguntar se tinha vazado algum vídeo meu, alguma coisa. Só que o presidente da empresa estava com o meu nome lá com ele, falou de dossiê, um relatório com tudo sobre mim e mandou me tirar da consultoria”, prosseguiu.

Internamente, a ordem foi interpretada como uma decisão de cunho político. Ivan trabalhava há um ano e meio em projetos da CDHU. Após sua saída, o clima entre funcionários teria se tornado de “vigilância e receio” de manifestações públicas ou em redes sociais.

Em desabafo, ele criticou a postura do governo paulista: “Onde está a liberdade de expressão que eles [bolsonaristas] tanto defendem? Do meu ponto de vista, os principais culpados são o Tarcísio, o grupo dele e o presidente da CDHU. A Fipe foi obrigada a me demitir”.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.