
O Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento de água da Grande São Paulo, opera com apenas 25,2% da capacidade, o nível mais baixo desde 2015, quando o estado viveu uma das piores crises hídricas da história recente. A estiagem prolongada e a falta de chuvas regulares levaram as autoridades a adotar medidas emergenciais para conter o esvaziamento dos reservatórios. Um em cada oito municípios brasileiros enfrenta situação de emergência devido à seca.
Diante da queda contínua, a agência SP Águas determinou que a Sabesp reduza a captação de água do Cantareira de 27 para 23 metros cúbicos por segundo. Também foi ativado um sistema de transferência do reservatório Jaguari, no Vale do Paraíba, para reforçar o abastecimento. Mesmo assim, o nível do manancial segue em declínio, com redução diária de até 0,3%.
A Sabesp informou que investe na redução de perdas e que a taxa de desperdício caiu para 19%. Especialistas, no entanto, afirmam que o índice real de vazamentos na rede é superior a 40%, o que torna o sistema vulnerável. O professor Antônio Carlos Zuffo, da Unicamp, defende um plano estrutural de longo prazo para enfrentar a crise e critica a falta de investimentos em reflorestamento das áreas de mananciais.

Camila Viana, diretora-presidente da SP Águas, declarou que a região metropolitana foi colocada em nível 4 de alerta hídrico, em uma escala de cinco. Ela afirmou que o comportamento do período chuvoso será decisivo para a recuperação dos reservatórios e que o monitoramento será intensificado nas próximas semanas.
Entidades ambientais pedem mais transparência nos dados de captação e uso da água. O Instituto Água e Saneamento solicitou acesso às informações de outorga da Sabesp, afirmando que sem divulgação pública não há como acompanhar o cumprimento das metas de consumo. A falta de comunicação entre os órgãos de gestão hídrica também é apontada como obstáculo para evitar novas crises.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) prevê chuvas abaixo da média para os próximos meses, o que agrava o risco de o Cantareira atingir o “volume morto” até o fim do ano. Especialistas alertam que a situação atual expõe a falta de planejamento e pode repetir os erros de 2015, quando o sistema foi administrado mais por critérios políticos do que técnicos.